sábado, 7 de março de 2015

PROFESSORES DO BRASIL SÃO TRATADOS “NO TAPA”.


Welliton Carlos 
Em um clipe de 1980, produzido pela banda Pink Floyd, as crianças são chamadas para cantarem em uníssono: “Não precisamos de nenhuma educação”.
É a manifestação pop de uma era em que a coação partia dos professores.
Na maioria das vezes, eles estavam avessos ao cuidado com a individualidade dos jovens. E os humilhavam em sala.
O hit “The Wall” configura a imagem de adolescentes revoltados com a padronização do ensino. Com ele, vem à tona a necessidade de destradicionalização do ensino clássico.
Um vídeo divulgado, ontem, – em que um aluno agride uma diretora de escola por meio de um tripé de ferro – é a demonstração de que os questionamentos do Pink Floyd estão de fato superados. A nova era, pensemos, é de confronto, conflito, insubordinação e violência.
O que antes era atração agora se revela como repulsão.
Como faz crer Edgar Morin, com sua expressão “espírito do tempo”, o fator determinante desta mudança de paradigma é o encontro de contas entre a falta de investimento em uma profissão e o aumento da desigualdade social cimentado por quebras do mundo tradicional e que afeta os estudantes.
BELO HORIZONTE
O caso divulgado ontem ocorreu em Belo Horizonte (MG). O estudante já foi encaminhado ao juizado de menores e existe a denúncia de que tenha agredido outros funcionários da escola.
Mas vários outros fatos violentos têm ocorrido na mesma proporção e ritmo com que se coloca o Brasil no topo dos países campeões de agressão contra os professores.
A pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre aprendizagem (Talis) entrevistou 14.291 professores do Brasil, além de 1.057 diretores de 1.070 escolas. E uma das perguntas do levantamento realizado em 2014 mostra que 12,5% deste quantitativo já sofreu alguma forma de agressão. É um dado vexatório para o Brasil.
A pesquisa mostra ainda que, no Brasil, o professor gasta 20% de seu tempo em aula procurando manter a ordem dentro da sala de aula.
O índice de violência contra os professores brasileiros é o maior do mundo. Países como Coreia do Sul e Romênia apresentam índice zero.
O tempo gasto para colocar a sala em ordem é de 13% nos países analisados pelo Talis, o que revela uma grande diferença da experiência brasileira.
Michelle Beltrão Soares e Laêda Bezerra Machado, que investigam as causas da violência contra os professore, acreditam que os alunos violentos utilizam a escola para reproduzir suas frustrações. “Mesmo os alunos que não atribuem os valores esperados à instituição escolar, não ficam impassíveis a ela, utilizando-a como palco para a manifestação e expressão de suas frustrações, incluída aí a violência contra o professor”, dizem.
A pesquisa ainda revela que existe uma diferença do discurso dos professores de escolas privadas com os que frequentam as escolas públicas. “Em estabelecimentos escolares públicos, onde os alunos são mais vulneráveis à desigualdade social, podem existir mais e mais graves situações de violência contra o professor”.
Dirk Van Damme, que chefiou a pesquisa Talis, disse ao DM que a escola atual é diferente, mas em todos os países do mundo. “A grande questão é que o estudante leva seus problemas para a sala de aula”.

Violência típica começa por nota
O padrão de violência, que ocorre dentro da sala de aula, é quase sempre motivado pelo sistema de recompensa do aluno, que se vê frustrado com a correção das provas.
Não existem pesquisas quantitativas sobre este fato, mas apontamentos qualitativos. “Realizamos uma sondagem das motivações com três professores goianos. Os três revelam problemas comuns por conta das notas. Eles reconhecem que existem avaliações equivocadas, mas os alunos se irritam no momento. Talvez, a correção de provas e entrega não deveriam ocorrer como hoje, com liberalismos e muitas pessoas em pé”, sugere Janaína Siqueira, educadora que pesquisa as relações de poder dentro das salas de aula.
Um caso clássico ocorreu, em 2012, com direito a troca agressões físicas. Um aluno de 15 anos discordou da nota de Inglês, no Colégio Santa Cecília, em Santos (SP).
Em situação de extrema agressividade, o aluno pegou o diário de classe e apagou a nota. Em seguida, descontrolado, atacou a professora, jogando-a no chão e a agredindo de forma violenta.
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