Pouca estrutura, horários inacessíveis, acervos desatualizados e falta de acesso à internet. Esta é a realidade das poucas bibliotecas públicas do Brasil. Em Goiânia, elas são três, nenhuma delas tem atendimento aos sábados e domingos, algumas abrem apenas em horário comercial, o que restringe a possibilidade de uso (veja box nessa página).
Goiás tinha em 2012, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 237 bibliotecas públicas para 246 municípios. De acordo com este levantamento são 5,4 mil equipamentos do tipo nos 5.565 municípios brasileiros.
Ainda conforme dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais do IBGE, o total de municípios brasileiros com bibliotecas públicas passou de 76,3% para 97% entre 1999 e 2012.
Dados semelhantes foram levantados pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP) em março do ano passado, o que mostra que a realidade não mudou muito. De acordo com este estudo, Goiás tem 24,9 mil habitantes por biblioteca, uma média intermediária.
O Tocantins, Estado com melhor indicador na pesquisa, tem 10,4 mil habitantes por biblioteca, já o pior Estado no quesito é o Rio de Janeiro, com um espaço do tipo para cada 111 mil habitantes. A média nacional é de 33 mil habitantes por equipamentos.
De acordo com o 1º Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais, realizado em 2009, apenas 12% delas funcionavam aos sábados, 1% aos domingos e 24% no período noturno. A minoria delas com recursos de acessibilidade à pessoa com deficiência. Segundo este estudo, apenas 29% dos espaços tinham computadores com acesso à rede de computadores disponíveis para a população.
Para cumprir a Lei 12.244, que estabelece a existência de um acervo de pelo menos um livro por aluno em cada instituição de ensino do País, o Brasil vai precisar construir 130 mil bibliotecas até 2020. Atualmente, na rede pública, apenas 27,5% das escolas possuem uma biblioteca.
CONCENTRAÇÃO
Professora da Faculdade de Informação (FIC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Eliany Alvarenga de Araújo considera que os ambientes físicos das bibliotecas existentes são incompatíveis com o funcionamento destes espaços. “É um sistema de falência com raras exceções. Elas têm problemas de infraestrutura inadequada, ambientes que não contribuem para a leitura e pesquisa. Algumas delas deveriam ser interditadas”, critica. A especialista explica também que faltam pessoas qualificadas no exercício das funções dentro destes equipamentos públicos e que a concentração de bibliotecas nas regiões centrais, a exemplo de Goiânia, onde todas estão distantes da periferia, contribui para a manutenção das desigualdades sociais. “Se você tem estes espaços nas regiões centrais, atende pessoas que moram próximas a estes locais. Então é negado à população mais carente o acesso à pesquisa escolar, o acesso à pessoa que não tem internet e à literatura”, ressalta.
Esta situação favorece a manutenção de baixos índices de leitura do brasileiro. De acordo com o Instituto Pró-Livro, com dados de 2011, o brasileiro lê em média quatro livros por ano, entre literatura, contos, romances, livros religiosos e didáticos. Deste total, o brasileiro lê 2,1 livros inteiros por ano e dois em partes.
Para chamar atenção para o problema, professores da FIC farão hoje, em frente à Biblioteca Marietta Teles Machado, na Praça Universitária, uma aula pública. O evento marca o Dia do Bibliotecário. Eles questionam o abandono e o “descaso” com os equipamentos públicos. A concentração está marcada para as 8h. Haverá também outros eventos durante a semana, incluindo várias palestras sobre a importância destes espaços na sexta-feira na FIC.
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