O corpo magro, a baixa estatura e o sorriso tímido de menina contrastam com a barriga de 5 meses de gravidez de J.S.N., de 15 anos. A garota faz parte do crescente número de adolescentes grávidas que fazem pré-natal pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Goiânia. Segundo dados do Sisprenatal, sistema do Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento do Ministério da Saúde (MS), o número de grávidas entre 15 e 19 anos que fizeram pré-natal na rede pública de saúde da capital goiana cresceu 130%, passando de 1.036 para 2.336. Já o de grávidas entre 10 e 14 anos de idade pulou de 3 para 54 em dois anos. Em 2015, já foram registrados 293 casos de adolescentes e 8 de crianças grávidas que procuraram o pré-natal.
Os números de crianças e adolescentes grávidas que procuram o pré-natal indica uma maior conscientização quando comparado com o número de grávidas que dão à luz. Em Goiânia, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse número gira em torno de 90 partos por ano entre mães com 10 a 14 anos de idade e 2,8 mil entre 15 e 19 anos. Estas duas faixas etárias responderam, em 2013, por 12,5% dos casos de gravidez na capital.
Segundo especialistas, até o século passado, a gravidez na adolescência era considerada natural, ocorrendo na maioria das vezes, após o casamento, já que no passado, as mulheres se casavam precocemente, com idades entre 13 e 14 anos e, após a menarca, a ocorrência de uma gestação era um resultado esperada, pois a função feminina era, basicamente, a procriação.
O grande número de partos realizados em adolescentes na Maternidade Nascer Cidadão, localizada na região Noroeste de Goiânia, instigou o coordenador técnico-médico da unidade, o ginecologista e obstetra Jony Rodrigues Barbosa, a realizar sua dissertação de mestrado sobre o perfil epidemiológico dessas jovens.
Em 2012, os partos entre meninas de 10 a 19 na unidade corresponderam a 24% do total. “Na rotina profissional, observei o quanto uma gravidez causa mudanças na vida de uma mulher, causando novas emoções, sensações, obrigações e sentimentos, além das inúmeras preocupações causadas por um filho desde o seu nascimento e que não diminuem com o seu crescimento. Neste contexto, tendemos a acreditar que sabedoras das mudanças causadas no rumo de suas vidas, o ato de engravidar deveria ser extremamente planejado por uma mulher juntamente ou não com seu parceiro”, reflete.
Implicações
Para o médico, a gravidez na adolescência causa sérias implicações, por ser um período de transformações que acaba atingindo os projetos sociais como um todo, adiando a possibilidade de desenvolvimento, exigindo um maior comprometimento das ações, colocando fim à liberdade e ao tempo que deveria ser dedicado a uma melhor preparação para o futuro, com um grande impacto familiar inicialmente, mas com o passar do tempo, apresenta efeitos progressivamente positivos, ocasionando uma aceitação mais tranquila, com boas expectativas com relação ao nascimento da criança.
Durante sua pesquisa, Barbosa observou que 29% das adolescentes que pariram na Maternidade Nascer Cidadão eram menores de 16 anos. “A maioria tem baixo nível de escolaridade, e depende de programas sociais do governo. Isso evidencia que a gravidez precoce está ligada a baixa renda. Na classe média, o índice é considerado alto, mas não chega a ser tão grande”.
De acordo com o médico, a falta de informação não é mais a maior causa da gravidez na adolescência. “De 170 garotas entrevistadas, apenas uma revelou não conhecer os métodos contraceptivos. Porém, 70% delas não usavam regularmente e mais de 80% não usavam nenhum”, destaca.
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