domingo, 15 de março de 2015

INDISCIPLINA LONGE DA SOLUÇÃO.


Ameaças, drogas, agressões, brigas e intolerância. Diariamente, diretores e professores convivem com a dura realidade da indisciplina dentro dos muros dos colégios. Há casos em que a conduta dos alunos ultrapassa o limite entre o mau comportamento e a violência, se transformando em incidentes traumáticos para os educadores, que evitam se expor ou falam apenas sob a condição de anonimato. Apesar de diferentes visões sobre as causas do problema, há um ponto em comum na opinião dos diversos profissionais ouvidos pelo POPULAR: a escola e os professores não estão preparados para enfrentar incidentes graves registrados no âmbito escolar.
Pesquisa realizada pela Fundação Lemann e Ibope Inteligência com mil professores de escolas públicas de todo o Brasil aponta que a segunda demanda mais urgente, segundo a categoria, é indisciplina, apontada por 14% dos pesquisados. Em primeiro lugar está a falta de acompanhamento psicológico para os alunos que necessitam (21%). Em terceiro a defasagem no aprendizado (12%), ficando à frente dos baixos salários (veja quadro). Em Goiás, os registros dos casos estão pulverizados e falta um levantamento mais rigoroso. Mesmo sem uma pesquisa precisa sobre o tema, os profissionais da área afirmam que conflitos por conta de indisciplina são frequentes.
Quando os atos de indisciplina se transformam em atos infracionais, o professor se vê desamparado. Uma professora da rede pública precisou ser transferida de unidade após levar uma surra de um aluno. Traumatizada, a mulher está de licença para tratamento psiquiátrico. A vítima foi procurada pela reportagem, mas preferiu não comentar a agressão física.
Funcionários da unidade onde a agressão aconteceu, que também pedem para não ser identificados temendo represálias, explicaram que, mesmo em casos graves, o adolescente não pode ser transferido sem consentimento da família. A solução, então, é o professor trocar de unidade. Em casos extremos, profissionais chegam a pedir exoneração, como aconteceu com outra educadora procurada pela reportagem. Segundo familiares, ela decidiu deixar o emprego em uma escola pública de Aparecida de Goiânia após ser ameaçada por um adolescente com uma faca.
Drogas
Dados do Conselho Tutelar de Aparecida de Goiânia, segunda maior cidade do Estado, dão ideia da dimensão do problema. Em 2014, foram registrados 400 situações de indisciplina escolar, sendo 90% deles em escolas públicas. “Foram 198 só na região do Setor Garavelo. Em 2015, o ano letivo começou há menos de dois meses e já temos 16 casos, mas nenhum grave”, contabiliza Rômulo Pinto, conselheiro tutelar .
Presidente do Conselho Tutelar da Região Oeste de Goiânia, Omar Borges de Souza diz que atende em média 45 casos mensais de alunos rebeldes. Segundo ele, muitos casos de indisciplina estão ligados direta ou indiretamente à questão das drogas. O mais grave deste ano, registrado há duas semanas, é o de uma diretora que está sendo ameaçada por alunos que traficam drogas dentro da escola. A reportagem tentou contato com a diretora, mas ela não quis comentar o assunto.
“O uso e o tráfico de drogas estão dentro da escola. Esse é um grande problema. Mas o principal é a desestrutura familiar. Muitos pais negligentes acham que a escola tem que educar o filho. As escolas estão lá para escolarizar e não para educar”, diz Souza.
A gestora de um colégio estadual da Região Leste de Goiânia, que preferiu não ser identificada, também afirma que o uso de tráfico de drogas é uma realidade dentro das escolas. Ela conta que já flagrou alunos fumando maconha dentro da unidade no período da aula. “Chamei o grupo para conversar e expliquei que aqui não é permitido”, conta. Segundo a gestora, o problema do tráfico, atualmente, é bem menor do que há 4 anos. A melhora de deu após parceria com o Batalhão Escolar da Polícia Militar. Mas ela admite: “Não vou dizer que não tem. Tem, mas é menor”.
Escola no Divã
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