domingo, 22 de março de 2015

PAIS COM CULPA, FILHOS SEM LIMITES.



“Meu filho de 6 anos tem comportamento de adolescente, questiona o tempo todo, contesta qualquer regra e tem um poder de argumentação incrível.” Mateus, o adolescente precoce filho da consultora de vendas Soreyne Lima, não está sozinho. Esse é o perfil da maioria das crianças dessa idade hoje em dia e esse comportamento contestador é resultado da combinação de dois fatores: pais sem autoridade e crianças muito inteligentes e com acesso a uma gama enorme de informações. São os filhos de uma nova família, em um novo tempo.
Os pais de hoje têm mais próxima a lembrança de um outro arranjo familiar, no qual o pai pagava as contas e a mãe cuidava da casa e dos filhos. Hoje, ambos trabalham e a educação dos filhos foi transferida para os avós, babás ou escolas em tempo integral. A mudança no papel da mãe dentro da família gerou um sentimento de culpa imenso nos pais, explica a psicóloga Márcia Freire Ribeiro. Principalmente na mulher.
Essa culpa impede os pais de estabelecerem limites para os filhos. “Eles argumentam que ficam tão pouco tempo com os filhos e que por isso não conseguem puni-los”, relata a psicóloga. Os pais modernos perderam a autoridade e os filhos, a noção do que é certo e errado. “A culpa fez dos pais reféns dos filhos e as crianças se tornaram os reizinhos tiranos da casa”, analisa Márcia.
limite e negação
O limite e a negação são fundamentais para que a criança aprenda a lidar com o mundo adulto, explica a psicóloga. Se a criança não sofre frustrações dentro de casa, um ambiente de afeto, ela não vai conseguir lidar com as frustrações do mundo adulto. “Essa criança pode vir a se tornar um adulto intolerante”, afirma Márcia. Ou adolescentes estendidos, adultos que aos 30 anos permanecem na casa dos pais e ainda não terminaram a faculdade.
Se de um lado temos pais sem autoridade, perdidos e angustiados, do outro, crianças superinteligentes e bem informadas, resultado do acesso cada vez mais cedo aos equipamentos eletrônicos e à infinitas informações. “Nem sempre os pais sabem por onde os filhos navegam e os deixam expostos à informações que podem queimar etapas do processo de amadurecimento”, relata Márcia. Eles deixam os filhos “soltos” por displicência, por não estar presente ou por achar normal e não ver perigo.
As crianças, explica Márcia, são naturalmente manipuladoras. Elas percebem o que é importante para os pais e fazem de atividades como comer, dormir e tomar banho canais de manipulação. “Se os pais não conseguem reagir à manipulação, acabam por reforçar esse comportamento.” Elas também são contestadoras, estão sempre testando os limites dos pais para chamar a atenção e, se os pais não impõem limite, elas sofrem, explica a psicóloga, porque se sentem culpadas. “A criança precisa de limite e amor para se tornar um adulto saudável capaz de enfrentar o mundo adulto.”
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