domingo, 18 de outubro de 2015

A MEDIUNIDADE PERANTE A MEDICINA


Dias atrás, neste mesmo espaço, falei sobre a mediunidade sob a ótica da lei. Tratando-se de opinião médica, é importante ressaltar que, normalmente, os médicos não reconhecem como fenômenos os trabalhos de cura de João de Deus, de Abadiânia, seja pelo espírito corporativo da classe médica, seja por motivo econômico, perfeitamente justificável, pois não há dúvidas de que os trabalhos espirituais de um médium como João Teixeira de Faria, inteiramente gratuitos, constituem, de certa forma, uma espécie de concorrência desleal, “desviando” clientela, daí porque, a exemplo de Zé Arigó, Edson Queiroz e outros que já morreram, acontecem as perseguições por “exercício ilegal da medicina”, “curandeirismo” ou “charlatanismo”.
As perseguições que sofreram Zé Arigó, João Teixeira e outros são reações normais que ocorrem em qualquer sociedade capitalista ocidental, porque o indivíduo tem medo de perder o mercado. A par disso, há o problema da inveja, por parte daquelas pessoas que, tendo estudado muito e não logrando sucesso com a realização pessoal, não se contentam em constatar que uma pessoa, muitas vezes de instrução primária, realiza miraculosos trabalhos, despertando a atenção do povo. É lógico que a reação é o combate.
Entretanto, isoladamente, inúmeros médicos já reconheceram os poderes de cura de João Teixeira, como os 14 médicos peruanos que pediram para ser operados por ele, não obstante a ferrenha oposição da classe, em uma das viagens àquele país. Estive com o médium João no Peru, onde certa vez até foi pedida sua prisão, e depois veio a tornar-se um verdadeiro taumaturgo naquele país, onde goza de enorme conceito.
No Brasil, também houve muitíssimos casos. O dr. Naum Silveira, por exemplo, brilhante juiz de Direito em Goiás, residente em Goiânia, frequentou a Casa de Dom Inácio por muitos anos e tem sempre procurando colaborar, participando nos trabalhos espirituais e também como palestrante, porque anteriormente fora beneficiado.
O Jornal da Manhã, de Uberaba (edição de 12.08.80), noticiou que o presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Uberaba, dr. Nilson Camargos Roso, consultado sobre a opinião da classe médica acerca do médium João Teixeira, disse que só poderia emiti-la após uma verificação pessoal, já que este se encontrava naquela cidade atendendo no “Centro Espírita Fé e Caridade”.
Acompanhado de diversos colegas, o médico permaneceu junto àquele médium presenciando o atendimento dos trabalhos feitos  a cerca de 600 pessoas e de 35 operações realizadas, elaborando, em seguida, um relatório, em que, após discorrer sobre os preparativos, concluiu por informar que todos os pacientes ali operados naquela ocasião ficaram curados.
Outros, sem buscar atacar os trabalhos de cura de João de Deus, preferem atribuir as curas a aspectos psíquicos, como é o caso do Presidente da Associação Médica de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, dr. Lói Biachi, que disse “haver doenças orgânicas e psicossomáticas. Nas pessoas, há angústias, medos e incertezas pelo futuro. Por isso, muita gente procura alguém que ofereça algo misterioso, místico e com isto cura seus males”.
O comentário foi feito devido ao enorme número de pessoas que consultou o médium João Teixeira quando percorreu o Sul e esteve em mais de cem municípios do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, além de diversos lugares na Argentina.
Lói Biachi diz que “alguns serão curados, porém muitos continuarão com seus problemas, pois a Medicina, aquela científica, continua eterna, continuará prestando seus serviços, aliviando a todos e curando o que for possível”, preferindo não fazer maiores comentários a respeito do médium goiano, limitando-se apenas a divulgar uma nota, em que diz confiar na Medicina tradicional, sem entrar no mérito da questão da mediunidade de João Teixeira.
O então secretário de Saúde do Distrito Federal em 1983, dr. Jofran Frejat, ao opinar, em reportagem publicada no jornal Correio Braziliense (edição de 15.11.83), a propósito das nume¬rosas curas operadas pelo médium de Abadiânia em pessoas desenganadas pela Medicina, disse que “essa prática foge às normas de ética médica e por isso mesmo é da competência do Conselho Regional de Medicina fiscalizá-la”. E prossegue, afirmando que “o excepcional foge à análise humana. E o excepcional, o fantástico, o inexplicável existe, e há quem acredite nele. Como é o caso de Abadiânia, no Estado de Goiás”.
Segundo ele, muitas pessoas, num momento de aflição, principalmente diante de doenças incuráveis, quando a Medicina não mais resolve, apelam para a religião ou para curandeiros, sendo uma fuga num momento de desespero, refutando a afirmação do então presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal, dr. José Maria da Conceição, de que a procura pelo médium era decorrência da falta de assistência satisfatória nos hospitais, o então Secretário disse que “se fosse assim, não existiriam curandeiros em países onde a Medicina é altamente desenvolvida, como na União Soviética, por exemplo, onde uma mulher afirmou que iria curar até o presidente Brejnev, que, quando doente, a ela apelou. Isto é próprio mesmo da natureza humana”, concluiu.
Ademais, não há, a meu ver, conflito entre os trabalhos mediúnicos e a Medicina tradicional, posto que as próprias entidades recomendam aos que estão se tratando pela Medicina terrena que não abandonem o tratamento prescrito pelos médicos.
Isto também demonstra que não existe área de atrito entre a mediunidade, a Metapsíquica e a Parapsicologia, devido à tênue linha que as diferencia, como se verá em artigo sobre o assunto que virá em breve.
 (Liberato Póvoa, desembargador aposentado do TJ-TO, membro-fundador da Academia Tocantinense  de Letras, escritor, jurista, historiador e advogado –liberatopovoa@uol.com.br)
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