sábado, 5 de janeiro de 2019

Abusos contra crianças em Caiapônia eram registrados em diário


Parte dos abusos sexuais supostamente praticados pelo líder espiritual Nilson Alves de Sousa, de 49 anos, contra três meninas de 7, 10 e 13 anos, estão registrados em um diário que era escrito à mão por ele mesmo. O caderno e outros objetos, como mantos e velas foram apreendidos na barraca onde ele mora e realizava os atendimentos, em uma área rural às margens da GO-221, a 8 km de Caiapônia (334 km de Goiânia).
Ele está preso por conta da suspeita dos crimes de abuso, assim como a avó das meninas, Noêmia Cândida de Jesus, de 42 anos, que é apontada nas investigações como responsável por levar as netas ao local em troca de trabalhos espirituais. Segundo relatos iniciais da mulher à Polícia Civil, ela buscava enriquecimento. O delegado de Caiapônia, Marlon Souza Luz diz que a PC foi acionada pelas mães das crianças, que são filhas de Noêmia, e que estranharam a mudança no comportamento das meninas.
As duas vítimas mais novas, de 7 e 10 anos são irmãs, primas da de 13 anos. Segundo o delegado, ele chegou a ter conjunção carnal com as duas mais velhas. Com a menina de 7 anos, ele manteve sexo oral, masturbação e admitiu ter tocado nas suas partes íntimas.
No caderno, o homem escreve: “Tudo ficou mais forte quando mudamos para o acampamento. Lá (nome) sempre me seduzia (...) teve até penetração com consenso com pênis também”. No caderno ainda consta que “no acampamento com (nome) teve toques com o dedo nas partes íntimas dela muitas vezes também. Com (nome) só parou quando ela começou a sentir dores, mas com (nome) continuou”.
No caderno o líder espiritual diz que chegou a pensar em convidar outro homem para participar do que ele chama de “farras de amor”, mas que o convite não chegou a ser concretizado porque esta pessoa “não teria coragem e só serviria para fazer caridade e para prestar trabalho ao próximo”. O delegado detalha que, ao ser preso, Nilson agradeceu o trabalho da polícia, já que temia que a entidade que o possuía no momento dos abusos poderia pedir algo mais sério das meninas, inclusive a morte delas.
O delegado diz que tem dez dias para concluir o inquérito e que deve ouvir outras pessoas que procuravam o líder espiritual. “É um local muito improvisado. São acampamentos sem qualquer estrutura. Eles estão ali há cerca de quatro meses, mas sabemos que ele é procurado por pessoas ligados à política, profissionais liberais, entre outras pessoas. Queremos saber o que essas pessoas ofertavam em troca dos trabalhos que iam ali buscar”, detalha.
Marlon Souza Luz relata que o mesmo diário contém muitos nomes de pessoas que procuravam por Nilson em busca destes trabalhos espirituais. “Queremos saber o que este homem oferece para que as pessoas o procurem e o que ele pede em troca, queremos saber se mais pessoas, crianças ou não, também foram vítimas de algum abuso”, destaca.
Recorrente
O delegado reforça que a Polícia Civil de Caiapônia realiza um trabalho intenso no combate ao abuso e à exploração sexual infantil no município. “Chego a dizer que a situação está endêmica. Temos mais 15 investigações sendo concluídas nos próximos dias e entendemos que este é um mal que está crescendo por aqui e estamos com nossas forças voltadas para acabar com essa prática aqui”.
A operação deflagrada nesta sexta-feira (4), com o apoio da Polícia Militar, se chama Anjos da Guarda 2. O delegado explica que essa é a segunda operação e que outras serão deflagradas nos próximos dias. “Queremos ser anjos para essas crianças”, diz.
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