terça-feira, 10 de novembro de 2015

GOIÁS OCUPA O 3º LUGAR NO PAÍS EM MORTES VIOLENTAS DE MULHERES


O estado de Goiás ocupa o 3º lugar no ranking de mortes violentas de mulheres no país, segundo dados do estudo "Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres”. De acordo com a pesquisa, divulgada na segunda-feira (9), em 2003 foram registrados 143 casos. Já em 2013, esse número passou para 271, ou seja, uma alta de 89%.
Com isso, a taxa de mortes violentas de mulheres no estado, a cada 100 mil habitantes, no período, passou de 5,4 para 8,6.  Esse resultado deixou Goiás empatado com o Alagoas, na terceira posição, ficando atrás apenas do Espírito Santo (taxa de 9,3) e do líder Roraima (15,3).
O estudo é de autoria do sociólogo argentino Julio Jacobo Waiselfisz, radicado no Brasil, e analisa dados oficiais nacionais, estaduais e municipais sobre óbitos femininos no Brasil entre 1980 e 2013, passando ainda por registros de atendimentos médicos.
Segundo os dados, entre as capitais do país,Goiânia aparece na 5ª posição, com taxa de 9,6 homicídios de mulheres a cada 100 mil habitantes. Em 2003, as mortes violentas de mulheres foram 38. Já em 2013, o número chegou a 68.
Outra cidade goiana, Alexânia, que fica no Entorno do Distrito Federal, se destacou no ranking dos pequenos municípios. Segundo a pesquisa, a cidade, que tem população feminina média de 11.947, é a segunda do país em homicídios, com taxa de 25,1 a cada dez mil mulheres. Em primeiro lugar está a cidade de Barcelos, no Amazonas, com taxa de 45,2.
No geral do país, entre 1980 e 2013 foram assassinadas 106.093 mulheres, sendo 4.762 só em 2013. O Brasil tem uma taxa de 4,8 homicídios para cada 100 mil mulheres, a quinta maior do mundo, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que avaliaram um grupo de 83 países.
Outro dado nacional mostra que 27,1% dos homicídios acontecem no domicílio da vítima, indicando a alta domesticidade dos assassinatos de mulheres. Outros 31,2% acontecem em via pública, e 25,2%, em estabelecimento de saúde.
Avanço da violência
De acordo com o desembargador Luiz Cláudio Veiga Braga, presidente da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar e de Execução Penal do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), "os dados são preocupantes e colocam o estado de Goiás em uma situação desconfortável”.
“Outro dado significativo da pesquisa mostra o avanço da interiorização da violência, que deixa os grandes centros para migrar para as cidades pequenas. Essa situação também nos preocupa”, afirmou.

Questionado se o avanço da violência no estado ocorre em função de uma ineficiência no combate a esse tipo de crime, Braga ressaltou que o aumento de denúncias reflete no aumento dos índices. “A violência tem aumentado, mas quero crer que também tenha crescido a delação da vítima. Ou seja, as mulheres têm levado ao conhecimento policial que sofrem essa violência e isso faz com que haja uma projeção dos dados estatísticos”, ressaltou.
O desembargador também destacou que o uso da tecnologia, como o botão do pânico, que já foi adotado em Goiás, é uma das ações que têm mostrado resultados positivos. “Essa tecnologia tem ajudado muito, pois a mulher fica mais segura sabendo que, com a aproximação do agressor, ela poderá chamar a autoridade policial. Como exemplo também temos o uso das tornozeleiras eletrônicas, já que existe um monitoramento e, caso o agressor se aproxime, o alerta é dado”, explicou.
Braga reconheceu que o contingente de policiais ainda é pequeno em Goiás para que todas as vítimas de violência doméstica fosse devidamente protegidas, mas diz que o estado tem caminhado para solucionar essa questão. “Estamos buscando uma nova realidade para reverter esse quadro”.

Por fim, ele explicou porque muitas mulheres que já conseguiram medidas protetivas acabam mortas. “O que ocorre significativamente é que as vítimas acabam se reconciliando com o seus agressores. Aí esse autor volta para o lar, ainda que ela esteja sob proteção, muitas vezes esse crime acaba chegando às piores consequências, que é o homicídio”, ressaltou o desembargador.
Já a delegada Ana Elisa Gomes Martins, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Goiânia, diz que o combate contra a violência tem melhorado, mas ainda há muito a fazer. Além disso, ela diz que elas estão cada vez mais envolvidas em ações criminosas.
“Infelizmente a criminalidade tem aumentado, crimes contra o patrimônio, tráfico de drogas, e as mulheres estão se envolvendo com essas práticas. Então é preciso fazer um acompanhamento muito mais cauteloso, a partir dessa pesquisa, para que a gente entenda de onde surge a violência”, ressaltou.
Vítimas
Familiares de mulheres que morreram vítimas de violência doméstica dizem que, independente dos resultados estatísticos do estado, a perda do ente querido é algo que nunca será superado. É o caso dos parentes de Luana de Oliveira, de 21 anos, que foi morta a facadas nas proximidades de casa em Bela Vista de Goiás, na Região Metropolitana de Goiânia, em outubro deste ano.
O principal suspeito do crime é um jovem de 21 anos, com quem ela manteve um relacionamento. Na época do crime, eles já estavam separados há seis meses.
“Ele vivia agredindo ela, ameaçando ela de morte. Eu sempre mandava ela ir até a delegacia dar parte, mas ela falava que tinha medo de que ele a matasse e não tinha coragem. Eu achava que ele não teria coragem de fazer isso, mas teve”, disse a mãe de Luana, Patrícia de Oliveira.
Segundo ela, o caso segue sendo investigado, mas o responsável pela morte da filha continua impune. “Eu não tenho mais lágrimas, de tanto que chorei a morte dela. Eu quero justiça, quero que ele pague pelo que ele fez”, pediu Patrícia.
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