Texto de: PX Silveira
Decididamente, o atual governador de Goiás, Marconi Perillo, não é homem de meias palavras ou de meias vontades.
Seus aliados sabem que pode tardar, mas nunca há de faltar a recíproca e ao apoio que lhe emprestam. Esta atitude tornou-se uma de suas marcas. E, a ela, Marconi se entrega a ponto de, por vezes – e se preciso for, lançar-se ao sacrifício junto com um parceiro ao invés de simplesmente faltar-lhe com a palavra.
Exemplo recente aconteceu no processo de formação da sua chapa nas últimas eleições, quando ele rejeitou a aproximação garbosa de Ronaldo Caiado a troco de sua candidatura ao Senado, pois antes havia dado a palavra a Vilmar Rocha de que ele seria o candidato da base ao mesmo Senado.
Deu no que deu. E olha que mesmo assim, contra uma parada que muitos julgavam perdida, o candidato e parceiro de honra do governador surpreendeu na reta final das eleições e quase que dobra o amplo favoritismo de RC, que levou por pouco.
Agora, novamente, o governador vem a público dar mostras de sua fidelidade aos companheiros e aliados. E faz isso com muita coragem, diga-se, ao anunciar sua vontade de homenagear frontalmente o ex-governador Ary Valadão, o último do período político que teve início com a tomada do poder pelos militares.
Esta decisão do sr. governador (muito bem por ele justificada em missiva dirigida ao homenageado e publicada na íntegra neste jornal, em 25/02) demonstra não só o seu caráter de quem não deixa amigos na chapada. Vai além e mexe no fundo do caldeirão da história contemporânea da política goiana, contribuindo para inverter posicionamentos e verdades que, assimiladas à primeira hora e de acordo com as aparências de contexto, eram até recentemente tidas como inabaláveis.
E se fosse só por isso, já em muito valeria a intenção do governador Marconi de reposicionar no pódio da história goiana, o hoje nonagenário Ary Valadão, ao convalidar seu nome para o nosso autódromo internacional.
A mexida no caldeirão (não sem alguma polêmica) aponta que a história foi injusta com este personagem. A começar pelo seu respeito à diversidade ideológica e pelo seu despreendimento com relação ao poder.
Como deputado federal, Ary “notabilizou-se no Congresso Nacional por votar, em pleno regime militar, contra a cassação do mandado de deputado esquerdista”, aponta o jornalista Helton Lenine.
Como governador, foi aquele que mais apoiou a liberdade de imprensa, tendo se posicionado como peça chave para o surgimento do Diário da Manhã e seu rápido posicionamento em nível nacional.
Este mesmo Diário da Manhã que logo depois seria fechado por manobras persecutórias do governo seguinte, de Iris Rezende Machado, a quem a população saudou, um tanto equivocadamente, hoje vemos, como um messias que nos levaria ao território da democracia, da transparência, da confiança e da honestidade pública (vejam bem de quanta ingenuidade somos capazes!).
Outro ponto de contraste, que é iluminado pela atitude de Marconi Perillo ao introjetar esta homenagem no homem histórico Ary Valadão, é quanto a verdadeira honradez dos políticos daquele tempo. E isto fica evidente ao comparmos, à luz da história, os comportamentos do último governador da revolução de 64 e do primeiro governador da redemocratização do País, Ary e Iris.
Pois muitos ainda se lembram que, entre a voz corrente propalada pelos senhores democratas, que em breve assumiriam o poder, havia um dito jocoso para se referir ao então governador em fim de mandato: “Ali, vai ladrão”.
Repetíamos o trocadilho como quem conta uma verdade histórica acentuada pela sede de mudança. Mal sabíamos nós que grandes assaltos aos cofres públicos estariam por vir, principalmente o do Banco do Estado de Goiás (BEG), quando uma quantia vultosa foi desviada na calada da noite para ser gasta no segundo turno das eleições que acabariam por consagrar Marconi contra as pretenções de Iris ser pela terceira vez eleito.
Suprimidas as máscaras, passado o tempo e nele desenrolados os acontecimentos, o que podemos deduzir agora é que Ary Valadão não era de fato aquele político mandante e desmandante pintado de negro, principalmente se comparamos suas atitudes com as do seu sucessor ao longo de sua carreira política.
As atitudes, do Iris histórico, o revelaram como um homem centralizador que não mede esforços para obter e permanecer no poder, mesmo que isto custe a falta com a palavra, o aniquilamento de seus companheiros e o abalo de chão de membros mais próximos de sua família. Mesmo que isto custe, enfim, o próprio aniquilamento de sua biografia.
E foi o que aconteceu. Só quem viveu é que agora pode ver. Ary Valadão sobe alguns degraus no pódio da história, graças ao discernimento do governador Marconi. Enquanto Iris vai descendo posições a cada novo desgaste, a cada nova frustração, a cada nova manobra de bastidor para se manter avidamente no poder ou à beira preparando o bote.
E na exata medida, em que Iris consegue controlar o passo a passo de seu partido para que não surja alguém que lhe possa fazer sombra, ele perde o controle do passo certeiro da história.
A conclusão a que chegamos é de uma enorme desilusão e descrença na fé pública, por um lado, ao mesmo tempo que experimentamos um sentimento de que a Justiça vai chegando a seu destino. Se Marconi Perillo já mudou a história política e administrativa do Estado de Goiás, agora ele mostra que está mudando também a percepção histórica que temos do nosso Estado. Tamanha façanha ele consegue ao colocar em seus devidos lugares dois personagens de nossa história recente, seja prestando homenagem, seja disputando nas urnas.
O saldo que obtemos de tudo isso renova nossas expectativas no curso de um desenvolvimento integrado de Goiás e dos goianos, onde, no entanto, ainda há muito o que fazer. Mesmo com a diversificação da economia, o impulso social e a modernização do Estado, salvas as raras exceções, ainda apresentamos na dimensão pública um déficit de exemplos humanos que possibilitem e justifiquem o crescimento de nossa autoestima.
Seus aliados sabem que pode tardar, mas nunca há de faltar a recíproca e ao apoio que lhe emprestam. Esta atitude tornou-se uma de suas marcas. E, a ela, Marconi se entrega a ponto de, por vezes – e se preciso for, lançar-se ao sacrifício junto com um parceiro ao invés de simplesmente faltar-lhe com a palavra.
Exemplo recente aconteceu no processo de formação da sua chapa nas últimas eleições, quando ele rejeitou a aproximação garbosa de Ronaldo Caiado a troco de sua candidatura ao Senado, pois antes havia dado a palavra a Vilmar Rocha de que ele seria o candidato da base ao mesmo Senado.
Deu no que deu. E olha que mesmo assim, contra uma parada que muitos julgavam perdida, o candidato e parceiro de honra do governador surpreendeu na reta final das eleições e quase que dobra o amplo favoritismo de RC, que levou por pouco.
Agora, novamente, o governador vem a público dar mostras de sua fidelidade aos companheiros e aliados. E faz isso com muita coragem, diga-se, ao anunciar sua vontade de homenagear frontalmente o ex-governador Ary Valadão, o último do período político que teve início com a tomada do poder pelos militares.
Esta decisão do sr. governador (muito bem por ele justificada em missiva dirigida ao homenageado e publicada na íntegra neste jornal, em 25/02) demonstra não só o seu caráter de quem não deixa amigos na chapada. Vai além e mexe no fundo do caldeirão da história contemporânea da política goiana, contribuindo para inverter posicionamentos e verdades que, assimiladas à primeira hora e de acordo com as aparências de contexto, eram até recentemente tidas como inabaláveis.
E se fosse só por isso, já em muito valeria a intenção do governador Marconi de reposicionar no pódio da história goiana, o hoje nonagenário Ary Valadão, ao convalidar seu nome para o nosso autódromo internacional.
A mexida no caldeirão (não sem alguma polêmica) aponta que a história foi injusta com este personagem. A começar pelo seu respeito à diversidade ideológica e pelo seu despreendimento com relação ao poder.
Como deputado federal, Ary “notabilizou-se no Congresso Nacional por votar, em pleno regime militar, contra a cassação do mandado de deputado esquerdista”, aponta o jornalista Helton Lenine.
Como governador, foi aquele que mais apoiou a liberdade de imprensa, tendo se posicionado como peça chave para o surgimento do Diário da Manhã e seu rápido posicionamento em nível nacional.
Este mesmo Diário da Manhã que logo depois seria fechado por manobras persecutórias do governo seguinte, de Iris Rezende Machado, a quem a população saudou, um tanto equivocadamente, hoje vemos, como um messias que nos levaria ao território da democracia, da transparência, da confiança e da honestidade pública (vejam bem de quanta ingenuidade somos capazes!).
Outro ponto de contraste, que é iluminado pela atitude de Marconi Perillo ao introjetar esta homenagem no homem histórico Ary Valadão, é quanto a verdadeira honradez dos políticos daquele tempo. E isto fica evidente ao comparmos, à luz da história, os comportamentos do último governador da revolução de 64 e do primeiro governador da redemocratização do País, Ary e Iris.
Pois muitos ainda se lembram que, entre a voz corrente propalada pelos senhores democratas, que em breve assumiriam o poder, havia um dito jocoso para se referir ao então governador em fim de mandato: “Ali, vai ladrão”.
Repetíamos o trocadilho como quem conta uma verdade histórica acentuada pela sede de mudança. Mal sabíamos nós que grandes assaltos aos cofres públicos estariam por vir, principalmente o do Banco do Estado de Goiás (BEG), quando uma quantia vultosa foi desviada na calada da noite para ser gasta no segundo turno das eleições que acabariam por consagrar Marconi contra as pretenções de Iris ser pela terceira vez eleito.
Suprimidas as máscaras, passado o tempo e nele desenrolados os acontecimentos, o que podemos deduzir agora é que Ary Valadão não era de fato aquele político mandante e desmandante pintado de negro, principalmente se comparamos suas atitudes com as do seu sucessor ao longo de sua carreira política.
As atitudes, do Iris histórico, o revelaram como um homem centralizador que não mede esforços para obter e permanecer no poder, mesmo que isto custe a falta com a palavra, o aniquilamento de seus companheiros e o abalo de chão de membros mais próximos de sua família. Mesmo que isto custe, enfim, o próprio aniquilamento de sua biografia.
E foi o que aconteceu. Só quem viveu é que agora pode ver. Ary Valadão sobe alguns degraus no pódio da história, graças ao discernimento do governador Marconi. Enquanto Iris vai descendo posições a cada novo desgaste, a cada nova frustração, a cada nova manobra de bastidor para se manter avidamente no poder ou à beira preparando o bote.
E na exata medida, em que Iris consegue controlar o passo a passo de seu partido para que não surja alguém que lhe possa fazer sombra, ele perde o controle do passo certeiro da história.
A conclusão a que chegamos é de uma enorme desilusão e descrença na fé pública, por um lado, ao mesmo tempo que experimentamos um sentimento de que a Justiça vai chegando a seu destino. Se Marconi Perillo já mudou a história política e administrativa do Estado de Goiás, agora ele mostra que está mudando também a percepção histórica que temos do nosso Estado. Tamanha façanha ele consegue ao colocar em seus devidos lugares dois personagens de nossa história recente, seja prestando homenagem, seja disputando nas urnas.
O saldo que obtemos de tudo isso renova nossas expectativas no curso de um desenvolvimento integrado de Goiás e dos goianos, onde, no entanto, ainda há muito o que fazer. Mesmo com a diversificação da economia, o impulso social e a modernização do Estado, salvas as raras exceções, ainda apresentamos na dimensão pública um déficit de exemplos humanos que possibilitem e justifiquem o crescimento de nossa autoestima.
(Px Silveira, presidente do Instituto ArteCidadania. E-mail: pxsilveira@me.com)
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