Nos bastidores, a oposição ao governo de Marconi Perillo (PSDB) vive um momento de certa euforia em relação à sucessão estadual, no ano que vem. A razão para o entusiasmo é que o tucano não poderá disputar a própria sucessão. Sem ele diretamente no confronto, a oposição — leia-se PMDB – acredita, com razão, que suas chances crescem muito.
De fato, enfrentar Marconi Perillo é uma parada indigesta, bem sabe seus adversários, principalmente o PMDB, derrotado sucessivamente por cinco vezes: 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014. Em quatro dessas eleições os peemedebistas foram diretamente batidos por Marconi, e em uma, a de 2006, sob a indiscutível influência do tucano, que carregou nas costas o peso pesadíssimo Alcides Rodrigues para derrotar Maguito Vilela.
Marconi saiu na frente no movimento sucessório, ao dizer alto e bom som que o PSDB tem pré-candidato para 2018, no caso o vice-governador José Eliton. O governador teve o cuidado de dizer que o vice é candidato de seu partido, não da base aliada. Ou seja, Marconi circunscreveu, delimitou o campo, até pra não melindrar aliados. Aos outros partidos da base cabe também definir seus respectivos nomes e afunilar a escolha no momento certo.
Mas além de alçar José Eliton como o nome dos tucanos – e de certa forma, colocar uma opção viável para a base aliada como um todo –, Marconi está fazendo mais no sentido de fortalecer esse nome. Os movimentos do tucano-chefe vêm sendo realizados desde a eleição municipal no ano passado, mas ficaram muito mais evidentes e efetivos nos últimos dias. Vejamos algumas dessas ações.
Para começo de consideração, José Eliton ganhou protagonismo inédito nos últimos meses, principalmente nos encontros com prefeitos, o que o Palácio das Esmeraldas está realizando como nunca se viu antes. Em praticamente todas as grandes movimentações oficiais, Eliton se faz presente, articula, decide e discursa.
Foi assim, na quarta-feira, 15, em que o vice representou o governador na sessão solene de reabertura dos trabalhos da Assembleia Legislativa de Goiás. José Eliton fez um balanço das realizações do governo, elogiou os deputados, notadamente o novo comandante da Casa, o correligionário deputado José Vitti. Ao dar esse espaço ao seu vice, Marconi o coloca em exposição, uma forma de alavancar o nome de José Eliton para o pleito de 2018.
Por sinal, na estratégia marconista rumo a 2018, a Assembleia Legislativa tem papel preponderante. Não é por acaso que o presidente da Casa é um tucano, eleito com seis meses de antecedência por seus pares, numa articulação engendrada antes da eleição municipal, como forma de não acirrar os ânimos no Parlamento num momento delicado. Além disso, um terço das cadeiras na Casa é ocupada por tucanos, nada menos que 13 deputados. Com os parlamentares das outras siglas aliadas, a maioria governista chega a ser acachapante ali.
Com essa maioria, está garantida a aprovação do final do ajuste fiscal tão necessário para que Goiás continue menos afetado pela pesada crise financeira que assola outros Estados. No ano passado, 17 Estados apresentaram resultados financeiros piores dos que os de 2015. Seis Estados simplesmente não pagaram o décimo terceiro salário do funcionalismo público.
São dificuldades que Goiás não sofre nesse nível. Não que sejamos imunes à crise, mas as dificuldades se tornaram bem mais amenas com as medidas que o governador tomou ainda em 2014, com outras medidas aprovadas no final do ano passado e que se completam agora, com o pacote de austeridade fiscal que será votado na Assembleia após o carnaval.
O governador Marconi Perillo também está procedendo uma reforma na equipe de governo, reacomodando forças. Se o critério técnico não é deixado de lado nesse rearranjo, o político é tratado com muito mais cuidado. Na semana que passou, o deputado estadual Lucas Calil (PSL) aceitou o convite para uma secretaria extraordinária, onde vai cuidar de assuntos relacionados às políticas da juventude. Com isso, volta à Assembleia Legislativa o suplente Santana Gomes (PSL), um ferrenho defensor do governo (e do governador) que não se intimida em descer no mesmo nível dos oposicionistas quando estes extrapolam nas críticas.
Também a deputada tucana Lêda Borges foi reconduzida à Secretaria Cidadã, continuando um trabalho importante que ela vinha realizando desde o início da gestão, ao mesmo tempo em que assegura espaço e visibilidade para a base aliada na região do Entorno do Distrito Federal. Lêda, ex-prefeita de Valparaíso de Goiás, mostrou que sabe jogar bem nas duas pontas, o operacional técnico e o estritamente político.
Ainda na Assembleia, Marconi convidou o deputado Doutor Antônio (PR) para uma secretaria extraordinária do Governo. A ida do parlamentar para a equipe de governo está praticamente acertada e na vaga de Doutor Antônio na Assembleia Legislativa entrará o suplente José de Lima (PDT), de Anápolis, um fiel aliado do governador que reforçará ainda mais a base na “Manchester” goiana.
Outras mexidas na equipe serão efetuadas no mês de março, quando o governador voltará de missão internacional nos Emirados Árabes (de 24 de fevereiro a 23 de março). Mas toda a articulação política, por mais bem-feita que seja, não terá muito efeito se o governo não tiver o que mostrar para o eleitor. Mas há o que mostrar: Centro de Excelência do Esporte; Sistema Produtor Mauro Borges, que vai garantir o abastecimento de água em Goiânia e Aparecida até 2040; Credeq e o novo Instituto Médico-Legal de Aparecida; recuperação e manutenção em 42 mil quilômetros de rodovias goianas; ampliação do Hospital Materno Infantil.
No total, o Estado investiu mais de R$ 1,5 bilhão em obras de infraestrutura, saúde, educação, esporte e lazer no ano de 2016. E aqui a pior notícia para a oposição: a previsão é de investimento de pelo menos mais R$ 3 bilhões nos próximos dois anos de governo. Aliás, é quase certo que Goiás será o único Estado brasileiro a realizar obras neste tempo que falta para acabar a gestão dos atuais governadores.
A privatização da Celg D trouxe dinheiro novo para o caixa do governo estadual. A operação injetou R$ 1,1 bilhão nos cofres do Estado, a ser utilizado somente em infraestrutura. Convênio assinado entre o governo estadual e Caixa Econômica Federal possibilita a construção de 30 mil casas em Goiás, com investimento previsto de aproximadamente R$ 4 bilhões por parte do governo federal. Uma parceria que mostra a capacidade de articulação do tucano-chefe com as esferas federais. Ah, e os recurso da repatriação também estão vindo, mais de R$ 100 milhões.
E tudo isso será aplicado com a participação das prefeituras. O governador, o vice-governador e o secretariado discutem com os novos prefeitos a prioridades para os investimentos a serem realizados.
Aqui, é bom voltar àquela fala de José Eliton na Assembleia, referida há alguns parágrafos atrás. O vice fez um discurso otimista, mas não irrealista, ao lembrar que há problemas, mas ressaltando conquistas em todas as áreas. “Avançamos nos últimos 12 meses, seja na soma de obras e benefícios, seja no exemplar equilíbrio das contas públicas, seja na qualidade dos serviços públicos ofertados à sociedade.”
Eliton disse mais, ao finalizar seu discurso, e aqui está o motivo para mais preocupação para a oposição: “Nosso governo já tomou a decisão em investir em obras que se eternizem, outros 600 milhões ainda serão investidos na área da saúde, 400 milhões de reais serão utilizados para os municípios em busca de novos empregos mostrando que somos um Governo municipalista que trabalha em conjunto com os prefeitos”.
José Eliton será o arauto dessas obras, como candidato dos tucanos. E governo que faz obras, o PMDB sabe muito bem disso — até porque foi governo durante um bom tempo –, se torna quase imbatível.
Bancada do PMDB fortalece Daniel Vilela
O PMDB é o principal – na verdade, o único — partido de oposição que tem condição e nomes para disputar a sucessão estadual em condições de competitividade, visto que o PT naufragou nas últimas eleições municipais. A corrupção desenfreada e a incompetência petista no plano federal custaram caro ao partido também em Goiás e em nada ajudou a gestão pífia de Paulo Garcia na Prefeitura de Goiânia.
O problema para o PMDB é a divisão entre os grupos irista e maguitista. Outro complicador é a pretensão do senador Ronaldo Caiado (DEM) de ter apoio dos peemedebistas para a disputa ao Palácio das Esmeraldas. Caiado acredita que tem o apoio do prefeito Iris Rezende, mas há controvérsias.
Estritamente no PMDB são três nomes possíveis para a sucessão estadual: o ex-prefeito Maguito Vilela, o deputado federal Daniel Vilela e o sempre candidato Iris Rezende. Na sexta-feira, o diário O Popular noticiou que a bancada do PMDB na Assembleia anunciaria apoio para a pré-candidatura de Daniel Vilela ao governo estadual.
Segundo a nota, o líder da bancada estadual na Assembleia, deputado José Nelto, asseverou que não seria discutido mais outro nome, por ser Daniel a renovação que a militância peemedebista tem cobrado há tempos.
O também deputado Wagner Siqueira foi ainda mais afirmativo: “Nosso candidato ao governo é Daniel Vilela”, dizendo ainda que Ronaldo Caiado tem de fazer o trabalho político dele no DEM para, mais na frente, se discutir alianças e formação de chapa.
Se o PMDB realmente fechar no nome de Daniel Vilela, o partido entra numa área de pacificação e pode aglutinar força para trabalhar a pré-candidatura de um jovem político que seria novidade na sigla – lembrando que nas cinco derrotas consecutivas que o PMDB amargou desde 1998, disputou com apenas dois nomes, Iris Rezende e Maguito Vilela.
A pergunta que pode ser feita, tendo em vista o passado, é: Iris Rezende vai deixar Daniel Vilela ser o candidato do PMDB?
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