A recente missão de Goiás ao continente europeu trouxe resultados práticos para o Estado e revela a nova fase da economia global: a da interação entre mercados. Antes Estado de economia rural, preso nos arranjos comerciais herdados pelas capitanias hereditárias, e apenas colonizado pelas empresas que chegavam em busca de um ‘paraíso’ para ‘poluir’, como dizia uma propaganda da década de 1970, Goiás avançou e entrou na fila de players e tornou-se terra de oportunidades.
O Estado é hoje uma das sedes econômicas desterritorializadas. Existem no Estado empresas japonesas, americanas, canadenses, de diversas partes do mundo.
Mais do que gestão de negócios ou acordos comerciais, as novas práticas exigem a construção de parcerias sólidas e até mesmo ações de irmandade econômica.
A ideia de irmandade comercial diz respeito a parcerias simétricas sólidas e que ocorrem a partir de longo prazo – o que gera confiança e intimidade econômica.
O melhor exemplo, no caso de Goiás, é a relação que o Estado tem com a província Hebei, na China. Existem acordos entre chineses e goianos desde o início deste século, com o enfoque no comércio e também na cultura, além de educação. Apesar das distâncias, até mesmo culturais, é comum o encontro de gestores das duas nações em solenidades de aproximação.
Além da China e também Estados Unidos, Goiás tem se esforçado por manter diálogos vantajosos com países do leste europeu. Na última semana o Estado finalizou mais uma tentativa de aproximação.
Capitaneada pelo vice-governador José Eliton, também secretário de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação (SED), a comitiva goiana que foi ao leste europeu fecha a missão com um balanço positivo e a certeza de que pactuou acordos e reforçou a imagem de Goiás – ação determinante para o Estado entrar no portfólio das multinacionais da nova economia, caso das empresas de informática e de produção científica, patentes e de conhecimento.
A Rússia é um dos exemplos para Goiás, na medida em que o país europeu enfrenta crises cíclicas e sempre se supera com grandes momentos de crescimento. Não bastasse, é também um potencial mercado para os goianos comercializarem seus produtos. “Existe tradicionalmente uma relação dos goianos com países mais exóticos do ponto de vista territorial. Mas falta ainda colonizarmos a América Latina”, diz Luis Carlos Soares, economista e empresário que realiza estudo sobre mercado exterior.
Aos russos, José Eliton ressaltou que os dois Estados guardam interesses semelhantes: “Temos que aproveitar essa janela de oportunidades”. Eliton explica que os goianos vendem principalmente soja e carne para os russos. Em contrapartida, compramos fertilizantes. Nos últimos anos, ocorreu um aumento de 149% nos negócios entre os países.
Não se leva em conta outras relações, como a imensa quantidade de goianos que hoje estuda na Rússia – o país com maior quantidade de estudantes de Medicina originários de Goiás.
Os resultados mais alvissareiros que Eliton conseguiu podem se transformar, no mínimo, em geração de empregos – uma estratégia para segurar os postos de trabalho que estão desaparecendo no Brasil com a crise instalada pelo governo federal.
É o caso da instalação da fábrica de tratores MTZ – Belarus. A empresa exporta para quase 130 países. Detentora de 9% das vendas de máquinas do mercado global, a fábrica só tem a ganhar se instalar uma filial em Goiás – afinal, o Brasil é um ‘player’ do agronegócio e o Estado respira maquinário agrícola. Mas o Estado também ganha: a MTZ emprega 22 mil pessoas no mundo e deve gerar também posto de trabalho no Estado.
É esta espécie de resultado palpável que torna Goiás mais atraente e mercado real para quem tem dinheiro parado e deseja ocupar espaço financeiro no comércio global.
Tem pesado nestas reuniões com grandes empresários o conhecimento jurídico do vice-governador. José Eliton, que também é advogado, comunica a existência de segurança jurídica no Estado e informa sobre os limites legais do País, caso das normas societárias e o arcabouço tributário. Por mais que exista um grande fluxo comercial no mundo, o desconhecimento das leis e os procedimentos administrativos emperram negociações. Quando bem orientadas, as missões servem como caminhos de como os investidores podem chegar até Goiás.
ESTADO SE TRANSFORMA COM NOVO DESENHO ECONÔMICO
Missões como a findada na semana passada têm modificado o cenário econômico e o perfil produtivo de Goiás. Foram as missões que levaram informações sobre a localização do Estado, clima e as condições jurídicas de direito de empresa, direito ambiental e tributário vigentes no País para a grande maioria das multinacionais instaladas em Goiás.
Geralmente, as missões funcionam com uma apresentação do Estado para investidores, cujo momento de perguntas e respostas é essencial para a atração de investimentos. Por fim, uma rodada de negócios finaliza os encontros, momento em que integrantes da iniciativa privada buscam firmar parcerias e acordos.
Como participam os principais empresários do Estado e também lideranças de associações e federações, os investidores costumam prestar atenção nas propostas realizadas pelos goianos.
Ao longo das duas últimas décadas, Goiás fez quase 100 missões internacionais e nacionais. Empresas como a Hyundai, Mitsubishi, John Deere, Anglo American, Lafarge e várias outras multinacionais chegaram no Estado após missões.
PIONEIRO
Mauro Borges foi o pioneiro nas ações internacionais, tendo realizado visitas na China em busca de intercâmbio econômico quando a maioria dos governadores evitava qualquer contato com a nação comunista.
No final da década de 1990, Maguito Vilela trouxe para Goiás a Mitsubishi, inserindo de vez o Estado no mercado global. Nas décadas seguintes, de 2000 até agora, o governo de Goiás teve seu pico de atratividade.
A mudança econômica ocorreu três décadas depois das tentativas do governo federal ocupar o Estado por meio da Colônia Agrícola Nacional de Goiás (Cang). Apesar do perfil agrícola do Estado, a mecanização no campo jogou uma grande quantidade de pessoas nas cidades. A insistência apenas em uma vocação econômica travaria Goiás. Por isso os governantes – como os portugueses do século 16 – se lançaram em busca de outros mercados e terras.
“Atuo como caixeiro viajante. Temos que mostrar Goiás e suas oportunidades. Quem vai saber que existe no Brasil um Estado que se chama Goiás, uma capital que se chama Goiânia?”, diz o governador Marconi Perillo, um dos maiores entusiastas deste modelo econômico que busca equilibrar produção interna com oportunidades externas.
MODERNIDADE
Já na ditadura, a partir da gestão de Leonino Caiado e depois Irapuan Costa Júnior, ocorreu a adequação legal que permitiria a nova fase da economia de Goiás. Com a apresentação do Fomentar, legislação tributária que visava atrair as empresas para Goiás, teve início uma política de atração de empresas.
Políticos e gestores como Sólon Amaral, Flávio Peixoto e Servito Menezes foram os pioneiros nas ações e estratégias para tornar Goiás mais visível para a economia global.
A partir das gestões de Iris Rezende e Henrique Santillo, na década de 1980, teve início as primeiras ações de equipes de goianos ao exterior. Durante a gestão de Alcides Rodrigues, ex-governador de Goiás, entre 2006 e 2010, o Estado de Goiás tentou manter relações exteriores com países como China e Rússia.
Mas a dificuldade maior estava na falta de infraestrutura. Em uma das reuniões, o então governador foi questionado como conseguiria fazer com que o ferro extraído de Goiás chegasse na indústria de construção civil da China.
As perspectivas atuais de que a ferrovia Norte-sul saía efetivamente do papel em toda sua extensão, que Goiás inaugure nos próximos anos o aeroporto de cargas (Anápolis) e que continue a valer as regras atuais do ICMS são alvissareiras para a economia goiana.
“Falta agora Goiás agir na frente de outros Estados: construir polos de TI. A área de informática deve tornar o Estado cada vez mais competitivo. Não ser mais reconhecido como paraíso de commodities já é uma grande vitória”, diz o economista Luís Fernando Campos, da Pontifícia Universidade Católica. (W.C)
GOIÁS LÁ NO EXTERIOR
Estado segue tendência de avançar em mercados exteriores e desterritorializar a economia goiana, formando parcerias sólidas e irmandades econômicas
Saldo positivo
As exportações de maio superaram as importações, proporcionando o 16º superávit consecutivo da balança comercial goiana. O saldo positivo é resultado das vendas do Estado para o mercado externo que registraram, no mês, o total de US$ 534,6 milhões, enquanto as importações totalizaram o valor de US$ 356,8 milhões, perfazendo saldo de US$ 177,7 milhões favorável ao Estado.
Entre abril e maio
As exportações goianas apresentaram crescimento de 34% e as importações e saldo comercial tiveram evolução de 44% e 17%, respectivamente. Goiás acumula números expressivos em sua corrente de comércio. O saldo divulgado em maio chega a US$ 3,35 bilhões
96 países
Goiás exporta 310 produtos destinados a 96 países compradores. Os que mais se destacaram foram a soja e seus derivados, que representaram 50,43% do total das vendas, seguido das carnes (bovinas, aves e suínas), com 20,86%; ferroligas, 6,97%; couros e derivados, 5,54%; ouro, 4,79%; açúcar, 4,40%; amianto, 1,09%; além dos café, chá, mate e especiarias, 1,04%.
Principal mercado
A China é o principal mercado para os produtos goianos. Os asiáticos responderam por 45,15% das vendas externas do Estado. Países Baixos (Holanda), Rússia, Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, Hong Kong, Irã, Suíça, Egito e Itália completam a lista dos dez principais compradores das mercadorias produzidas por Goiás.
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