Casos de violência contra mulheres tem chocado a população de Goiás nos
últimos dias. Em uma semana, cinco crimes, cujos suspeitos são
companheiros ou parentes das vítimas, resultaram em seis mortes no
estado. Do total, foram quatro homícidos em Goiânia, um em
Anápolis e um em Vianópolis.
Neste ano, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública e
Administração Penitenciária (SSPAP), foram recebidas mais de 11.300
queixas de violência doméstica. Só em Goiânia, segundo a Delegacia
Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), foram presos, desde
janeiro, cerca de 400 agressores.
A delegada Ana Elisa Gomes, titular Deam, diz que, apesar de cada caso
ter uma história, os relatos de violência contra a mulher são sempre
semelhantes, pois envolvem ciúmes, ameaças ou casos de companheiros que
não aceitam o fim do relacionamento. Segundo ela, dos presos neste ano
na capital, em 60% dos casos a violência não chegou a ser física, mas
sim psicológica ou moral.
“Já nos primeiros sinais de possessividade do companheiro, de muito
ciúme, de fiscalização no celular, de redes sociais, exigência de
determinados comportamentos e condutas, a vítima deve procurar socorro,
procurar a delegacia para que realmente ela saiba se está sendo vítima
ou não de crime de violência doméstica”, alertou.
Confira abaixo os casos em que seis vítimas de violência doméstica morreram em uma semana:
Caillane Marinho - Vianópolis
Caillane Marinho foi encontrada morta dentro de casa, em Vianópolis (Foto: Reprodução/Facebook)
O caso mais recente que resultou em morte é o da fisioterapeuta Caillane Marinho, de 27 anos,
que foi encontrada com uma marca de tiro na cabeça dentro de casa,
em Vianópolis, na região sul de Goiás, no último domingo (9). Segundo
as investigações, a jovem estava no quarto da residência, onde morava
com o namorado, o engenheiro agrônomo Diego Henrique de Lima, de 30
anos, que é o principal suspeito do crime e ainda não foi encontrado
pela polícia.
Parentes disseram que Caillane namorava com o suspeito há seis meses e
passou a morar com ele há dois. Os relatos apontam que o relacionamento
dos dois era conturbado e uma tia da jovem afirma que ela apanhava do
homem,
que já tinha sido preso por porte ilegal de arma.
"
Ele era muito ciumento, obsessivo, do tipo machão.
Mulher [para ele] tinha que ser submissa, fazer o que ele mandasse. Não
sei qual era a relação deles entre quatro paredes, agora, que ele batia
na minha sobrinha, batia”, disse Mariana Bastos. A vítima deixou uma
filha de 7 anos.
Beatriz Medrado e Lídian Reis - Goiânia
Técnico de informática David Medrado matou a filha, Beatriz, e a ex-cunhada (Foto: Reprodução/Facebook)
Outro crime contra mulheres ocorreu na última quinta-feira (6), em
Goiânia. Na ocasião, o técnico em informática Deivid Medrado, de 35
anos,
matou a filha, Beatriz Reis Medrado, de 7 anos, e cometeu suicídio,
no Setor Crimeia Leste. Antes, ele baleou a ex-mulher, Lidiane Gomes
Reis Medrado, de 32, a ex-cunhada, Lídian Gomes Reis, de 29, e a
ex-sogra, Maria de Jesus Reis, de 59
Segundo a polícia, David aguardou o ex-sogro sair da residência para
comprar pão e entrou na casa, ainda na madrugada de quinta-feira. Após
pular o muro, ele abriu fogo contra as pessoas que estavam no interior
da casa e atirou contra si próprio.
Após três dias internada, a ex-cunhada do atirador, Lídian Reis,
morreu no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo).
Já a ex-mulher e a ex-sogra permanecem internadas. Segundo boletim
médico, divulgado nesta quarta-feira (12), Lidiane permanece com quadro
de saúde considerado grave. Ela respira de forma espontânea e segue
internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Já Maria de Jesus tem
quadro de saúde regular. Ela está consciente e em um leito na enfermaria
do hospital.
Parentes relataram que David e Lidiane estavam separados há oito meses, mas o homem não aceitava o fim do relacionamento.
Ele foi proibido de se aproximar da família, depois que a ex-mulher registrou uma ocorrência policial contra o ex-companheiro por injúria, ameaça e roubo.
Edivânia Pereira - Anápolis
Edivânia Mota Pereira foi morta a facadas na frente das filhas, em Anápolis (Foto: Reprodução/Facebook)
No dia 4, dona de casa Edivânia Mota Pereira, de 34 anos,
foi morta a facadas na casa em que morava,
em Anápolis, a 55 km de Goiânia. De acordo com o delegado Renato
Sampaio Cavalheiro, titular do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH)
da cidade, o principal suspeito é o marido dela, o pensionista Jansen
Ricardo Gazoli, de 40, que "matou a esposa na frente da filha do casal,
de 4 anos, e da filha mais velha de Edivânia de outro relacionamento,
que tem 10 anos". O homem foi preso na cidade de Americana (SP), na
última sexta-feira (7).
“A menina mais velha nos disse que, na noite anterior ao crime,
Edivânia e o marido discutiram, mas não houve nenhuma agressão física
entre eles. Aí, a mãe decidiu dormir no quarto com ela e a irmã. Durante
a madrugada, quando chovia muito, as crianças acordaram com os gritos
da mãe. A menina disse que viu o padrasto esfaqueando a mulher”, contou o
delegado.
Segundo Cavalheiro, após o crime, Jansen fugiu deixando as meninas
sozinhas com a mãe, que já agonizava e acabou morrendo no local. O
suspeito seguiu para a cidade paulista, onde mora a mãe dele, e, ao ser
preso, o homem confessou que matou a esposa. Agora, ele será transferido
para Goiás e, de acordo com o delegado, será indiciado por feminicídio.
Parentes de Edivânia relataram ao delegado que o casal vivia junto há
seis anos e, há dois, assinou uma declaração de união estável. “Os
familiares disseram que eles discutiam muito, mas nada sem muita
violência. Porém, no último dia 11 de setembro, a Edivânia tinha
registrado uma ocorrência de violência doméstica contra o marido na
delegacia de Anápolis. Apesar disso, ela continuou vivendo com ele e,
infelizmente, tudo terminou dessa forma”, disse o delegado.
Saionara Rocha - Goiânia
Saionara Rocha foi morta no apartamento em que morava, em Goiânia (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
No último dia 3, a jovem Saionara Santiago Rocha, de 24 anos,
foi encontrada morta no apartamento em que morava com o namorado,
o estudante de direto Pedro Frederico Andrade Salgado, de 23 anos, em
Goiânia. O jovem foi preso dois dias depois, quando acionou a polícia
dizendo que alguém tinha matado a mulher. No entanto, quando foi
interpelado pelos policiais, acabou admitindo ser o autor.
Ao ser apresentado na Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), o suspeito confessou o crime e disse
que o fez porque ela teria feito "chacota" com ele.
Segundo a Polícia Civil, o estudante deu duas facadas no peito da
vítima e depois tentou degolá-la, mas quando percebeu que ela já havia
morrido, acabou desistindo.
Os dois se conheceram há cerca de um mês, em um bar de
Goiânia.
A moça, que estava desempregada, havia acabado e chegar do Acre para
morar na capital goiana. Há duas semanas, eles começaram a morar juntos.
Nesse mesmo espaço de tempo, Saionara presenteou o namorado com a faca
usada em sua própria morte.
O estudante já tem passagens por lesão corporal, embriaguez ao volante e
dano ao patrimônio. Ele agora será indiciado por homicídio. Se
condenado, pode pegar até 30 anos de prisão.
Dayely Fonseca - Goiânia
Rogério matou Dayely e se matou em seguida, segundo a Polícia Civil (Foto: Reprodução/Facebook)
No último dia 3, a jovem Dayely Fonseca, de 22 anos, e o marido dela, Rogério Ferreira Alves, de 39,
foram encontrados mortos em uma casa nos fundos de uma academia,
no Setor Jardim Curitiba II, em Goiânia. De acordo com a Polícia Civil,
o homem atirou três vezes contra a jovem e se matou em seguida. A
motivação ainda é apurada pela Delegacia Estadual de Investigação de
Homicídios (DIH).
Assim como em outros casos, testemunhas disseram que o relacionamento
do casal era conturbado. “Eles viviam brigando. O Rogério era muito
ciumento e eles discutiam muito, até mesmo na frente dos alunos. Eles
moraram juntos, mas romperam várias vezes”, relatou u ex-aluno da
academia, que era de propriedade de Rogério.
Na segunda-feira (10), a polícia
começou a colher depoimentos sobre a morte do casal. De acordo com os relatos, Dayely e Rogério tinham se afastado, mas estava tentando uma reconciliação quando houve o crime.
O delegado Carlos Caetano Júnior, responsável pelo caso, disse que
foram ouvidos conhecidos dos dois, além de um parente de Rogério. "Uma
depoente disse que os dois já tinham outros relacionamentos e que isso
era público, nenhum dos dois escondia. Porém, queriam reatar", afirmou
ao
G1.
Ainda segundo a polícia, três dias antes de ser assassinada, Dayely procurou o 22º Distrito Policial de Goiânia e
registrou uma ocorrência contra o marido por ameaça.