sábado, 26 de dezembro de 2015

UM SORRISO DE ESPERANÇA


Sabrina não é calada, nem quieta ou frágil. Os pés sujos que calçam as chinelas simples são sinais da terra que cobre a pequena chácara onde o avô trabalha e onde costuma passar os dias, brincando com os cachorros e com a prima Ana Luísa. Mas o drama vivido em maio deste ano não passa despercebido, com as marcas de cirurgia na cabeça raspada e a pálpebra do olho direito que insiste em tremer e quase fechar.
Aos 7 anos, a criança sofreu uma tentativa de homicídio por uma das pessoas que mais confiava no mundo: o pai. João Batista Ribeiro de Oliveira sufocou a filha com uma toalha, bateu com um caibro na cabeça da criança e em seguida se matou. Inicialmente, Sabrina não se lembrava de nada. Mas ainda no hospital, de acordo com a mãe, Yara Maria Francisco, se desesperou quando se lembrou do que havia acontecido.
Agora tenta esquecer. E a farra alegre no quintal, brincando com os bichos e mergulhando na fantasia de criança, está ajudando muito em sua recuperação emocional e física. No dia 17 de novembro Sabrina fez o que deve ser a última cirurgia. Ainda não se reabilitou totalmente, na escola está mais lenta, mas caminha em passos largos para deixar tudo para trás.
Comida é sem dúvida o assunto preferido. “O que eu mais gosto na escola é de comer.” Sabrina sonha com os chocolates e outras comidas na festa de Natal, data preferida da criança, junto com a Páscoa.
A menina faz acompanhamento com psicólogo semanalmente e fisioterapia duas vezes por semana. Não gosta muito das sessões, mas conta tudo com um sorriso no rosto, os traços da alegria de quem lutou pela vida e agora sabe muito bem como desfrutá-la nas delícias da infância .
Enquanto isso, a 934 km de Goiânia, em Riacho de Santana (BA), Heitor Brandão festeja o fim de ano ao lado da família, reduzida sem o irmão Artur. Aos 6 anos, Heitor passa o primeiro Natal sem o companheiro, unido a ele desde o nascimento. Os gêmeos siameses foram separados em fevereiro deste ano, mas Artur não resistiu ao procedimento.
A mãe, Eliana Ledo Rocha Brandão, conta que Heitor voltou a frequentar a escola e leva uma vida normal -- ainda que com os problemas de locomoção, uma vez que utiliza cadeira de rodas. O que não o impede de brincar de esconde-esconde com a irmã, de 8 anos, e com os amigos do bairro.
Do Natal, ama os presentes, e espera ganhar um skate esse ano. “Vou andar melhor em casa”, diz. O objetivo é se locomover mais facilmente pela casa com o objeto. Eliana explica que Heitor precisa de alguns procedimentos médicos, como prótese de quadril, para poder andar. Mesmo na Bahia, a família vem a cada três meses fazer acompanhamento em Goiânia.
A saudade do irmão às vezes bate. Mesmo tão novo, ele comenta momentos que passou com o irmão, mas se apoia, de acordo com a mãe, na fé repassada pelos pais. “Ele sabe que é uma vontade divina e que ele tem que ser forte para cumprir os planos de Deus aqui na terra”, frisa Eliana.
Duplamente Natal
Toda de rosa e com a cabeça cheia de cabelos, Rafaela aguarda ansiosamente o dia 25 de dezembro, data em que a família comemora não só o nascimento do Messias, mas também de Rafaela. Ela desenha, olha de forma tímida para os lados e fala com a voz carregada de divertimento.
Rafaela ficou conhecida como a princesa de óculos depois que o irmão, Alexandre, escreveu um livro intitulado “A princesa que usa óculos” dedicado à irmã, que se recusava a usar as lentes por não existir nenhuma princesa das histórias infantis que use.
Na luta contra a leucemia desde os 6 anos de idade, o sorriso permanente no rosto dá força para os pais. “Quando recebi a notícia, pensava que era uma sentença de morte”, conta a mãe, Luciana Raizer, ao que o pai, Eugênio César da Silva, logo completa: “Mas isso foi inicialmente. Decidimos lutar e não desistimos desde estão.”
A família realizou ações de incentivo à doação de medula óssea, como a campanha “Doe vida, doe medula, doe com fé”. Em remissão há um ano e sete meses, Rafaela ainda toma medicamentos e está na chamada fase de manutenção, que dura dois anos. Ela toma remédios da quimioterapia diariamente e sente dores com alguns dos medicamentos. Nada visto como sofrimento pela criança. “Todos se surpreenderam com a garra dela. Nunca reclamava ou brigava. Compreendia muito bem”, explica a mãe.
Ano passado, Rafaela viu os fogos de artifício juntamente com a mãe da janela do quarto do hospital. Esse ano pretende comer muito frango assado, seu prato preferido, na festa que está sendo preparada pela família. O presente do Papai Noel – uma feirinha de plástico – já recebeu pelo correio. Para 2016, espera a liberação da média para poder viajar à praia. Enquanto isso, diverte-se das formas mais diversas e simples com o irmão.
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