O último sábado (15) marcou mais uma celebração do Dia do Homem. A
data, instituída em 1992, tem como finalidade reforçar a importância do
cuidado com a saúde masculina, visto que homens, em geral, apresentam o
mau hábito de negligenciar a importância da prevenção e dos cuidados
médicos.
Dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do Ministério da
Saúde, indicam que, na faixa entre 20 e 59 anos, os homens morrem mais
por causas externas, como violência e acidentes de trânsito e de
trabalho, por exemplo. Em seguida vêm as doenças do aparelho
circulatório, com as neoplasias (tumores benignos e malignos) em
terceiro lugar. Muitos desses casos poderiam ser evitados com os devidos
cuidados preventivos.
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás
(Cremego), Leonardo Mariano Reis, essa falta de atenção tem a ver com
questões culturais e, também, sociais. “Muitas vezes o homem não arruma
tempo para se cuidar”, afirma. “Como a porcentagem de homens que
trabalha é maior, as mulheres têm mais facilidade de se cuidar. E mesmo
aquelas que trabalham arranjam algum tempo para dedicar à saúde e à
beleza”, avalia.
O vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia 9ª Região
(CRP-GO), Shouzo Abe, aponta outros fatores como os responsáveis por
esse fenômeno. “Culturalmente falando, cuidar da saúde mostra
fragilidade e ao homem sempre foi imposto o estereótipo de que deve ser
forte, protetor”, analisa.
Saúde Mental
Como psicólogo atuante em consultórios, Shouzo estima que apenas
cerca de 20% de seus pacientes sejam do sexo masculino. E além de serem
minoria, ele destaca que muitas vezes os homens só procuram ajuda
especializada quando se sentem no limite com os problemas que enfrentam.
Questões familiares são algumas das principais causas que levam os
homens a cuidar da saúde mental — ainda que, em diversas situações,
contra sua própria vontade. “Geralmente quando procuram ajuda diz
respeito a um casamento que está finalizando e a mulher bate o pé que,
se ele não mudar, não procurar um psicólogo, vai se separar. Então não é
nem por ele. É porque a mulher determinou”, explica o vice-presidente
do CRP-GO.
Em outras situações, são os filhos quem impõem a procura por ajuda. E
há também aqueles que só resolvem se cuidar quando é a performance
sexual que está em jogo. “Existe um tabu de que o homem ter que ser
viril, garanhão, então quando procuram ajuda muitas vezes é porque o
problema já estourou. Por exemplo, se decidem cuidar de uma ejaculação
precoce, geralmente é porque sofrem com o problema há muito tempo e
agora já está mais grave”, comenta.
A situação preocupa, já que a Organização Mundial da Saúde (OMS)
estima que 5,8% da população brasileira (homens e mulheres) sofram de
depressão. A mesma entidade calcula que 9,3% tenham algum tipo de
transtorno de ansiedade. Em ambos os casos a média é superior ao do
restante da América Latina.
No entanto, não é só a saúde mental que causa provoca alerta em
especialistas, já que 18% dos brasileiros do sexo masculino são obesos e
57% têm sobrepeso, como apontam os dados do Sistema de Vigilância de
Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico (Vigitel), realizado anualmente pelo governo federal.
O levantamento apurou também que 7,8% dos homens têm diabetes e 23,6%
têm hipertensão. Aproximadamente 27% Consomem bebidas alcoólicas de
forma abusiva, enquanto 12,7% fumam.
Planos de Saúde
Até mesmo a busca por planos de saúde revela inércia por parte dos
homens. Dados levantados junto à Agência Nacional da Saúde (ANS) mostram
que, nos últimos dez anos, mulheres sempre foram a maior parte entre os
beneficiários desse tipo de serviço.
Em março de 2007, quando havia 37,3 milhões de usuários de planos de
saúde no País, cerca de 20 milhões eram mulheres, enquanto 17,2 milhões
eram homens.
Uma década depois, em março de 2017, o número de beneficiários subiu
para 47,6 milhões e as mulheres continuaram sendo o maior público, com
25,4 milhões. Homens eram 22,1 milhões.
Ao longo do último ano a taxa se manteve constante. Em maio de 2016,
32,9 milhões de clientes dos planos de saúde eram do sexo masculino,
enquanto 36,4 milhões eram do sexo feminino. Em maio de 2017 a proporção
é de 33,1 milhões de homens e 36,7 milhões de mulheres.
Shouzo Abe acredita que o paradigma da falta de cuidado por parte dos
homens só poderia mudar com campanhas que despertem a importância dessa
atenção. “O Ministério da Saúde já fez algumas, mas precisa de mais. É
preciso intensificar, juntar a saúde como um todo — Medicina,
Enfermagem, Psicologia e Fisioterapia. Seria fantástico”, diz. “A
cultura brasileira não incentiva o homem a cuidar da saúde. Precisamos
de uma mudança dessa visão social”, complementa.
segunda-feira, 17 de julho de 2017
Home »
» Homens ainda negligenciam o cuidado com a própria saúde
0 comentários:
Postar um comentário