A procura por arma de fogo tem se intensificado em Goiás nos últimos quatro anos. O número de registros de armas anual para pessoa física dobrou de 2013 para 2014. No ano passado foram contabilizados 4.162 novos armamentos no Estado, uma média de 11 por dia. Cinco anos atrás a média diária era três. São quase 300% de aumento nesse período. Isso considerando o Sistema Nacional de Armas (Sinarm) da Polícia Federal (PF), que a reportagem teve acesso após pedido via Lei de Acesso à Informação (LAI). Se levado em conta o banco de dados do Exército Brasileiro, esse aumento pode ser ainda maior.
Essa corrida do goiano para se armar tem produzido uma alta demanda para os órgãos responsáveis pelo registro de armas no Estado. Interessados em conseguir o direito de posse de arma chegam a madrugar na porta da Superintendência Regional da PF em Goiânia, já que são feitos apenas 30 atendimentos por dia. O mesmo acontece no prédio do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados (SFPC) do Exército, que fica dentro de uma vila militar. Por lá a procura foi tanta, que o serviço de registro chegou a ser suspenso por 45 dias para desafogar o excesso de processos abertos.
O advogado Alessandro Figueiredo Halabi, de 39 anos, veio de Morrinhos, a 130 km da capital, para dar entrada na sua habilitação de posse de arma na PF, que conseguiu em julho, cinco meses após dar início ao procedimento. Ele decidiu que precisava de uma depois que foi ameaçado por um cliente insatisfeito com o resultado de uma decisão judicial. Apesar da questão relacionada à sua profissão, Halabi também pontua o medo da criminalidade. “A gente está a mercê de ser assaltado tanto na rua quanto na residência”, lamenta.
Exames psicológicos e de aptidão de tiro estão entre os requisitos exigidos pela legislação para o direito à posse de arma. Com ele, Alessandro pode guardar seu armamento em casa ou em seu local de trabalho, mas não pode circular armado livremente. O advogado reclama da restrição. “É uma incoerência. A pessoa que tem registro provou que tem capacidade. Acaba sendo um penduricalho que fica só dentro de casa.”
A primeira compra de Halabi foi uma pistola ponto 380. O modelo está entre os mais vendidos para iniciantes, que também optam pelo calibre 38. Ambos são considerados os mais fortes permitidos pela legislação.
Motivos
O sociólogo e pesquisador do Núcleo de Estudos Sobre Criminalidade e Violência (Necrivi) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Dijaci David de Oliveira, aponta a instabilidade política como uma das causas para o maior crescimento do armamento a partir de 2014. “Existe uma desconfiança muito forte da capacidade do Estado na ordem pública. No Brasil prevalece muito essa ideia da arma para se defender. Têm vários políticos tentando se eleger com a ideia de que se tem que ter arma”, avalia.
Gerente do Grupo Pantanal, tradicional loja de armas na capital, Flávio Silva Cavalcante diz que o movimento no comércio tem aumentado bastante nos últimos anos. Entre os principais tipos de cliente, ele cita moradores da zona rural e fazendeiros. “Hoje não tem mais sossego na propriedade, se tem uma arma pode pelo menos dar um tiro para cima”, afirma. Atualmente, tramita na Câmara dos Deputados Federal um projeto de lei que concede porte de arma para proprietários e trabalhadores rurais.
Outro fator observado por Flávio Silva é a procura de armamento e munição específicos para a caça de javalis. Desde 2017, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) permite o abate controlado do animal, incluindo javaporcos e porcos asselvajados. A espécie é considerada exótica invasora e responsável por danos a flora e fauna, além de causar prejuízos em plantações.
A área da segurança privada também está refletida no aumento do registro de armas em Goiás. Em 2013 foram 67 armas registradas no banco de dados da Polícia Federal (PF) para esse ramo. No ano passado foram 778, o que representa um aumento de mais de 1 mil por cento. São considerados serviços de segurança privada o transporte de valores, segurança pessoal privada, a vigilância e a escolta armada.
Atualmente existem 117 empresas do tipo regularizadas no Estado, sendo que sete delas são centros de formação para vigilantes. Os números são do Sindicato das Empresas de Segurança Privada (Sindesp), que aponta um crescimento de cerca de 50% da quantidade dessas empresas nos últimos cinco anos.
O presidente da entidade, Valdivino Reis, aponta que a maior fatia da segurança privada atua em órgãos públicos por meio de terceirizações, seguida de instituições financeiras. Ele também cita o aumento de indústrias e do agronegócio, que demandam esse tipo de serviço.
Diretor do Grupo Tecnoseg e especialista em segurança, Ivan Hermano Filho diz que o aumento da procura por segurança privada tem a ver com a sensação de insegurança e não com o aumento de violência real. Estatísticas oficiais da Secretaria de Segurança Pública (SSP-GO) demonstram queda na maior parte dos índices criminais. Além disso, o empresário aponta a pequena melhora da economia, recentemente, teria ajudado a aquecer o mercado.
Furto de armas
O aumento total do registro de armas no Estado também é acompanhado do crescimento do número de ocorrências de furto e perda de armamento (veja quadro). O sociólogo especialista em violência, Dijaci David de Oliveira, vê esses números com preocupação. “Ter mais armas faz com que também bandidos tenham mais acesso a armas”, diz. Entre 2011 e 2017 mais de 3 mil foram furtadas ou extraviadas em Goiás.
Ivan Hermano, que é a favor de menos burocracia para o armamento, diz que reconhece o risco do armamento registrado legalmente ir parar na mão de criminosos, mas diz entender que a maior parte das armas ilegais chegam pela fronteira.
Uma pesquisa realizada em parceria entre a SSP-GO e o Instituto Sou da Paz chegou à conclusão que mais de 70% das armas apreendidas em Goiás tem registro de antes de 2003, ano da Lei do Desarmamento. Na época, foram analisadas mais de 6 mil armas apreendidas entre julho de 2016 e julho de 2017.
Segurança privada também cresce
A área da segurança privada também está refletida no aumento do registro de armas em Goiás. Em 2013 foram 67 armas registradas no banco de dados da Polícia Federal (PF) para esse ramo. No ano passado foram 778, o que representa um aumento de mais de 1 mil por cento. São considerados serviços de segurança privada o transporte de valores, segurança pessoal privada, a vigilância e a escolta armada.
Atualmente existem 117 empresas do tipo regularizadas no Estado, sendo que sete delas são centros de formação para vigilantes. Os números são do Sindicato das Empresas de Segurança Privada (Sindesp), que aponta um crescimento de cerca de 50% da quantidade dessas empresas nos últimos cinco anos.
O presidente da entidade, Valdivino Reis, aponta que a maior fatia da segurança privada atua em órgãos públicos por meio de terceirizações, seguida de instituições financeiras. Ele também cita o aumento de indústrias e do agronegócio, que demandam esse tipo de serviço.
Diretor do Grupo Tecnoseg e especialista em segurança, Ivan Hermano Filho diz que o aumento da procura por segurança privada tem a ver com a sensação de insegurança e não com o aumento de violência real. Estatísticas oficiais da Secretaria de Segurança Pública (SSP-GO) demonstram queda na maior parte dos índices criminais. Além disso, o empresário aponta a pequena melhora da economia, recentemente, teria ajudado a aquecer o mercado.
Furto de armas
O aumento total do registro de armas no Estado também é acompanhado do crescimento do número de ocorrências de furto e perda de armamento (veja quadro). O sociólogo especialista em violência, Dijaci David de Oliveira, vê esses números com preocupação. “Ter mais armas faz com que também bandidos tenham mais acesso a armas”, diz. Entre 2011 e 2017 mais de 3 mil foram furtadas ou extraviadas em Goiás.
Ivan Hermano, que é a favor de menos burocracia para o armamento, diz que reconhece o risco do armamento registrado legalmente ir parar na mão de criminosos, mas diz entender que a maior parte das armas ilegais chegam pela fronteira.
Uma pesquisa realizada em parceria entre a SSP-GO e o Instituto Sou da Paz chegou à conclusão que mais de 70% das armas apreendidas em Goiás tem registro de antes de 2003, ano da Lei do Desarmamento. Na época, foram analisadas mais de 6 mil armas apreendidas entre julho de 2016 e julho de 2017.