Em entrevista coletiva realizada no final da manhã desta
terça-feira (16) o governador Marconi Perillo mostrou contradições,
apresentou provas contra o conteúdo das citações dos ex-executivos da
Odebrecht. Por mais de uma hora, Marconi respondeu as perguntas dos
jornalistas e, na abertura da coletiva, fez uma explanação para
demonstrar a fragilidade das citações, apresentado as prestações de
contas da campanha, vídeos e documentos para corroborar suas afirmações.
“Em que pese nossa tranquilidade diante dos fatos e de nossa
capacidade em comprovar o que estamos afirmando, é evidente que as
citações me constrangem. Entretanto, tenho a cabeça erguida e a
consciência tranquila de que não fizemos nada errado”, disse o
governador. Não cometemos nenhum ato de corrupção e desvio, acusações
que, é bom repetir, sequer constam nos pedidos de investigação. Mais do
que isso: não recebemos nenhuma doação ilegal ou de caixa 2 nas
campanhas”, afirmou Marconi, durante a coletiva.
Citações
Marconi fez uma ampla exposição inicial ao aos jornalistas: “Antes de
tudo, é imprescindível lembrar que, em momento algum das citações dos
ex-executivos da empresa, meu nome foi associado a casos de corrupção,
propina ou vantagens pessoais. As injustas citações ao meu nome se
restringem à suposta prática de caixa 2, que absolutamente também não
aconteceram. Evidentemente, é preciso que essas menções sejam
esclarecidas, e é por isso que estou aqui hoje à disposição de vocês”,
disse.
Marconi enfatizou que é fundamental ressaltar, na maioria dos fatos
narrados pelos ex-executivos da Odebrecht, “seja até difícil saber a
quem responder, tamanha são as incoerências e as divergências de
informações percebidas entre os diversos depoimentos”. Uma delas diz
respeito às doações do Grupo Odebrecht, cujos valores cada delator
apresenta valores e versões divergentes. “As versões não batem, e não
batem justamente porque são acusações que não têm amparo da verdade”,
assinalou. Segundo Marconi, são inconsistências tão graves que foram
inclusive objeto de matérias na imprensa nacional, a exemplo da Folha de
S. Paulo, que mostrou lacunas inexplicáveis nas delações, especialmente
em relação à Goiás.
Odebrecht
Quando apresentou aos jornalistas o primeiro vídeo com depoimentos
dos delatores, Marconi mostrou que no caso específico do Grupo
Odebrecht, em 2010, eles contribuíram com nossa campanha, com um valor
de R$ 300 mil, em doações legais, declaradas e aprovadas pela Justiça
Eleitoral. Depois, na eleição seguinte, em 2014, a construtora foi
procurada novamente em busca de contribuição para a campanha. “As
doações do Grupo somaram R$ 2 milhões e 200 mil. Também doações legais,
dentro do que permitiam a legislação à época, declaradas e aprovadas
pela Justiça Eleitoral”, relatou.
Sobre supostos diálogos com os ex-executivos da Odebrecht, Marconi
disse que em nenhuma das ocasiões tratou de valores de doação com
nenhuma empresa ou pessoa que pudesse contribuir com nossas campanhas.
“Sempre me reservei, quando tratei das doações, a apresentar nosso
pedido. E isso, inclusive, fica claro no conteúdo das colaborações dos
ex-executivos da empresa”. Ele ressaltou que, é bom que se diga, nas
duas campanhas, tanto em 2010 quanto em 2014, as contribuições de
campanha por parte de empresas eram plenamente permitidas pela Justiça
Eleitoral.
Portanto, explicou, foram procuradas, nas duas eleições, empresas e
pessoas que tinham condições econômicas e que acreditavam no
desenvolvimento de Goiás para que pudessem contribuir com as campanhas
de forma transparente e legal. “A Odebrecht era uma das maiores empresas
do Brasil. Sempre fez doações a campanhas e era natural que, entre
tantas empresas que procuramos para contribuir com nossa campanha,
procurássemos também a Odebrecht. Aliás, como fizeram todos os meus
adversários em 2010 e em 2014 e a grande maioria dos candidatos país
afora”.
Segundo ele, foi assim que, em 2010, a Odebrecht foi procurada, entre
as diversas empresas com as quais estivemos para tratar do assunto, a
exemplo da Ambev, Bradesco, Itaú, Votorantim, Gerdau, Novo Mundo,
Hering, BR Foods, Teuto, BMG e tantas outras, para verificar o interesse
em participar da nossa campanha e fazer doações. O mais importante, de
acordo com Marconi, é que tanto no governo no período de 2011 a 2014,
quanto no atual governo, não houve um gesto de favorecimento a qualquer
empresa. Nenhum movimento de contrapartida, que pudesse induzir a
qualquer prática ilegal da nossa parte. Irei detalhar mais à frente, mas
isso já fica claro também nos depoimentos dos ex-executivos.
Campanha 2014
Marconi respondeu a acusação de que teria pedido R$ 50 milhões para a
campanha eleitoral de 2014. “Um fato absolutamente falso, que não
encontra qualquer fundamento na lógica ou na verdade. Eu nunca tratei de
valores específicos de doações de campanha com ninguém, com nenhum
proprietário ou executivo de qualquer empresa”, insistiu.
Além de ressaltar que a acusação não tem o menor cabimento, Marconi
indagou: “Como iria pleitear um valor altíssimo como este se a previsão
de gastos com minha campanha era de 30 milhões e somando as candidaturas
majoritárias, governador e senador, não chegamos a 50 milhões?”.
Naquele ano, explicou, somadas, as campanhas majoritárias na nossa
coligação em 2014 totalizaram R$ 34 milhões, como mostra os dados
oficiais da Justiça Eleitoral. Ele observou ainda que seria risível
pensar que teria sugerido uma doação no montante de 50 milhões para uma
única empresa. “No máximo posso ter comentado em alguma conversa, o
valor global do que imaginava gastar no conjunto da campanha eleitoral
de 2014, considerando todas as candidaturas”, frisou.
O governador enfatizou ainda que nenhuma das denúncias de corrupção,
desvios, fraudes e pagamento de propinas envolvendo a Odebrecht se
estende ao Governo de Goiás. “O grupo não tem nenhum contrato de obras
celebrado com a administração estadual. No nosso governo anterior,
investimos mais de 6 bilhões em obras e a Odebrecht sequer participou de
concorrências entre as centenas de licitações para obras civis e de
infraestrutura abertas pelo Governo de Goiás. E olha que foram
licitações de monta, disputadas por empresas de 14 estados diferentes”.
Saneago
Em relação a suposto favorecimento à Odebrecht nas subdelegações da
Saneago, o governador explicou que quando surgiram as primeiras
delações, parte da imprensa especulou que a Odebrecht teria feito
doações a sua campanha interessada nas subdelegações de esgoto da
Saneago nos municípios de Aparecida, Rio Verde, Jataí e Trindade. Outro
equívoco, facilmente esclarecido. “Documentos mostram que essa
subdelegação teve os procedimentos iniciados em 2009, quase dois anos
antes de eu assumir o governo. Quem conhece a legislação sabe que, por
força das regras, as companhias estaduais de saneamento são obrigadas a
proceder com os contratos de subdelegação quando assim for o desejo dos
municípios, que é, no final das contas, o concedente”, afirmou Marconi,
lembrando que partiu desses municípios o desejo de fazer a subdelegação a
uma empresa privada, uma vez que a Saneago não tinha os recursos
necessários para fazer os investimentos que os municípios exigiam. “Se a
Saneago não fizesse a subdelegação, os municípios fariam por conta
própria e a Saneago sairia no prejuízo”, observou.
A subdelegação da Saneago nos municípios de Aparecida de Goiânia,
Trindade e Jataí, foi feita através de uma licitação, onde a vencedora, a
Odebrecht, pagou um ágio de mais de trezentos por cento sobre o valor
original. O valor pedido na licitação para a subdelegação era de 90
milhões. O lance da Odebrecht foi de 276 milhões, quase 186 milhões a
mais. “Ora, se houvesse algum arranjo de favorecimento, porque a
Odebrecht daria um lance tão alto?”, indagou Marconi. Quanto às
subdelegações no Entorno de Brasília, que não se configuraram, o
governador assinalou que a Saneago apresentou um parecer contrário a
essa subdelegação, por entender que já havia recursos no PAC destinados
às obras e também duas excelentes parcerias com a CAESB: Sistema de
Esgoto de Águas Lindas e Sistema Produtor Corumbá IV, e que, portanto,
não seria necessária a subdelegação. Com isso, mandei encerrar o
assunto, em 2015. “A decisão foi exclusivamente técnico-financeira”.
Transporte
Em relação às obras do VLT, Marconi explicou que nunca houve qualquer
ação de favorecimento por parte do Governo de Goiás à Odebrecht. E
também nesse caso, os próprios ex-executivos das empresas foram claros
em dizer que não houve favorecimento ou contrapartida, até porque o VLT é
uma Parceria Pública Privada proposta por um grupo de empresas, que
inclui algumas empresas goianas. “E como tal a busca por recursos, em
sua essência, caberia a essas empresas”.