É hábito: um brasileiro sente dor e vai correndo para a caixinha de remédios para se medicar. A prática comum aponta para um cenário bastante alarmante. Segundo estudo publicado pela revista Ciência e Saúde Coletiva sobre a prevalência do consumo de medicamentos em adultos, cerca de metade da população adulta do país assume que faz ou fez uso de medicamentos por conta própria nos últimos 15 dias.
Para a professora da Faculdade de Farmácia da UFG, Nathalie de Lourdes Dewulf, os dados são preocupantes e fazem acender um alerta. “As pessoas precisam urgentemente buscar orientações, além de se perguntar como e para quê ela está sendo feita, principalmente em casos de automedicação ou uso indiscriminado de medicamentos.”
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a automedicação é a utilização de medicamentos por conta própria ou por indicação de pessoas não habilitadas, para tratamento de doenças cujos sintomas são “percebidos” pelo usuário, sem que haja avaliação prévia de um profissional de saúde.
A automedicação, segundo a especialista, é potencializada muitas vezes por propagandas que incentivam ou induzem o consumo de medicamentos, que nem sempre são os mais indicados. “Dores de cabeça, diarreia e gripes são alguns exemplos de doenças em que pessoas costumam se medicar, sem nem mesmo pedir orientação a um farmacêutico”, diz, alertando, ainda, que o mau hábito pode, muitas vezes, acabar “mascarando” um problema crônico e mais grave.
Quanto ao uso indiscriminado de medicamentos, a professora explica que a prática parte da necessidade de encontrar a cura para doenças usando apenas remédios. “Esse é um problema que temos na sociedade. Mesmo sendo acompanhadas por médicos — o que pode ajudar — as pessoas esquecem ou negligenciam tratamentos não farmacológicos, como a prática de exercícios físicos e uma alimentação saudável, por exemplo”, explica ela.
A professora destaca que, além de atingir quem não busca outros métodos de cura, quem aumenta doses ou toma remédios por mais tempo do que o indicado podem apresentar quadro de gastrite e outras reações físicas graves.
Diante disso, Nathalie lembra que a intoxicação é um problema grave que pode ser causado pelo uso indiscriminado de medicamentos. “Temos, pelo Sinetox, Sistema Nacional de Informações Toxico farmacológicas, que recolhe informações pelo SUS, a informação de que, em 2016, 33% das intoxicações que ocorreram em humanos foram causadas por medicamentos, prescritos ou não.”
Foi o que aconteceu com uma advogada ouvida pela reportagem. A profissional, que preferiu não ser identificada, conta que acabou tendo intoxicação e uma úlcera devido ao uso frequente de medicamentos. Mesmo tendo acompanhamento médico, a mulher assume que não cuidava bem da alimentação, muito menos praticava exercícios.
“Eu seguia fielmente o horário de tomar os remédios e acompanhava rigorosamente junto ao meu médico, mas descuidei com o restante. Não me alimentava corretamente e levava uma vida sedentária, então, o resultado veio com a gastrite”, revelou, dizendo que agora tenta manter um estilo de vida mais saudável.
Outro assunto grave que não pode ser esquecido quando se trata do uso indiscriminado de remédios é a dependência que estes medicamentos podem gerar. “Estes remédios costumam ter uma regulamentação restrita, então, nestes casos, é preciso haver uma supervisão”, reforça Nathalie.
Por isso, a principal orientação da especialista é que a pessoa que perceba que tem exagerado no uso de medicamentos, ou mesmo se automedicado, busque acompanhamento profissional qualificado. “É preciso fazer essa análise, pois se trata de um assunto muito sério e tem que ser bem esclarecido. Afinal, os remédios são pra trazer saúde, mas, sem essa supervisão, pode se tornar algo grave e até fatal”, conclui a professora.
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