quinta-feira, 22 de março de 2018

Jorge Kajuru: “Iris Rezende trouxe com ele o que há de pior”


Um dos mais ferrenhos críticos do prefeito Iris Rezende Machado (MDB), o vereador Jor­ge Kajuru (PRP) não tem qualquer expectativa de a gestão do emedebista melhorar, já que patinou nos primeiros 13 meses. Sem qualquer receio, Kajuru critica duramente o prefeito, a primeira-dama Iris de Araújo (MDB) e nomes escolhidos para compor o secretariado. Com ironia, Kajuru sugere que quem ainda administra Goiânia é o falecido petista Paulo Garcia e que a as decisões estão nas mãos da Dona Iris.
Ao receber o repórter, Kajuru parece tranquilo, bebericando uma taça de vinho, numa mesa da adega do Empório do Sertão, no bairro Alto da Glória, em uma noite da semana passada. Gravador ligado, o parlamentar tem o discurso pronto para criticar o caos que se instalou na administração da capital.
Começa dizendo que a Se­cre­taria Municipal de Trânsito (SMT) não funciona desde a época do Paulo Garcia: “Só pode ser ele ain­da o prefeito”. Na prefeitura, nas se­­cretarias, diz o vereador, “só mu­dou a coleira”. “Lá do céu ou do in­ferno o Paulo está administrando. O Iris morreu. Ele fala que a se­cretária de Saúde [Fátima Mrué] só vai sair se ele morrer. É melhor ele tomar cuidado, tem muita gen­te torcendo para que ele morra”, ironiza.
Kajuru afirma que um dos problemas da gestão de Iris é a escolha errada do secretariado. Sem poupar nomes, fala em despreparo e “falta de caráter”. “O prefeito escolheu o pior secretariado de sua vida pública. Na gestão anterior dele, a escolha da equipe foi inquestionável. Do ponto de vista moral, ele tinha mais pessoas decentes e mais preparadas para esta nova gestão. Desta vez, Iris trouxe com ele o que há de pior”, assevera.
O vereador do PRP não altera, pelo menos no começo da entrevista, o tom de voz. Ele havia acabado de se reunir com um aliado político que pretende se candidatar a deputado federal e com quem per­corre o Estado em busca de apoio para o pleito de 2018. Parece um pouco cansado, mesmo assim, não se deixar abater.
Afiado, o vereador mais votado da história de Goiânia (37,7 mil vo­tos, em 2016) ironiza: “Esta gestão é a sequência dos erros e da in­competência de Paulo Garcia. Até as irregularidades não mudaram nada. É mentira de Iris quando ele fala que a secretária Fátima Mrué esteja acabando com as máfias na saúde, elas continuam lá”. E não poupa críticas. “Não mudou nada. Isso fica evidenciado na CPI [co­mo ele denomina a CEI] da Saúde. Até quem ama o pre­feito, como o Clécio Alves [ve­re­ador do MDB], re­conhece que a saúde está horrível.”
Em uma entrevista para o jornalista Jackson Abrão (Grupo Jaime Câmara) em dezembro, lembra Kajuru, Iris disse que Goiânia seria referência em saúde pública no Brasil. “Venceu o prazo e Goiânia não é referência, é um caos. Lá na Câmara, para o vereador Clécio Alves, prometeu que em 90 dias Goiânia vai ser referência. Mas não vai ser. Definitivamente, Iris Rezende está gagá”, afirma.
O vereador lembra do dia em que apresentou denúncia com do­cu­mentos anexados para a Polícia Federal e o delegado ficou surpreso. “Ele ficou estarrecido com as irregularidades. Todo mundo sabe que lá [na Secretaria de Saúde] con­tinuam roubando, há uma máfia. Iris nomeou um diretor administrativo que é bandido, ele soube de irregularidades em contratos, mas não faz nada, não de­mi­tiu quem deveria. Ele não reconhece corrupção.”
Daí, Jorge Kajuru se estende pa­ra o passado do prefeito, dizendo que a vida toda Iris Rezende acei­tou coisas erradas. “A fortuna que ele tem é proveniente do quê? Dos honorários dele de advogado de 1950?”, alfineta.
Ainda sobre a saúde, o vereador conta que médicos da rede mu­nicipal perderam o “encanto” com a profissão e o “respeito com a Secretaria de Saúde”. Ele ainda aponta os intermináveis problemas com o Instituto Municipal de As­sis­tência Social (Imas). “Como que o Iris entrega o Imas a um homem como Sebastião Peixoto? O Imas já estava quebrado, inclusive por culpa do próprio Se­bas­tião Pei­xo­to.”
Segundo o vereador, o órgão deveria ser um hospital dos servidores e não poderia ser gerido pela Prefeitura de Goiânia. “Iris não apenas colocou gente ali para mudar, mas colocou alguém sem qualquer preparo, um desequilibrado. Ele [Sebastião Peixoto] é gente boa pra caramba para conversar, bater papo, mas não daria minha casa para ele tomar conta”, descarta.
Diante de graves problemas na saúde municipal, inclusive com a Comissão Especial de Inquérito (CEI) que investigou a Saúde e desgastou ainda mais a imagem da gestão com denúncias de superfaturamento e contratação sem processo licitatório, Iris ainda não reconheceu as irregularidades intrincadas com o seu governo. “Hoje ele não consegue enganar ninguém. Ele é falso, demagogo, perseguidor, traiçoeiro. Por isso consegue coisas que eu não suporto. Meu respeito pelo Iris é zero”, desabafa.
Acostumado a percorrer os postos de saúde, principalmente durante a madrugada, como um dos membros da CEI da Saúde, Kajuru flagrou a falta de médicos e a de produtos básicos para os cuidados dos pacientes. Ao vivo pelas redes sociais, classificou Iris de “mentiroso”, culpando-o pelas mortes. “Politicamente eu imaginava que o prefeito entraria na prefeitura e resolveria os problemas da cidade. Ele deixou a saúde abandonada, está um caos.”
Marginal Botafogo
O vereador entra em outra seara, lembrando os problemas da Marginal Botafogo, que têm causado transtornos repetidamente nas últimas semanas. “Será que Iris achou que não haveria mais chuva em Goiânia? E por isso não fez nada pela Marginal Botafogo? Choveu e alagou tudo. Todo mundo sabe que quando chove em Goiânia, alaga tudo”, alerta. E sugere que “Iris deveria ter tido um projeto pronto antes mesmo de assumir a prefeitura, tanto para a saúde quanto para estas questões de alagamento”.
Sem hesitação, Jorge Kajuru tem uma interpretação grave do que estaria levando os goianienses a amargar uma das gestões mais problemáticas da história: “O único projeto para Iris é fazer caixa para a Dona Iris. Ela vai ter uma fortuna para a campanha para deputada federal. A campanha dela terá estrutura de campanha de presidente da República”, acusa.
A respeito do Mutirama, o vereador critica veementemente o titular da Agência Municipal de Tu­rismo, Eventos e Lazer (Agetul), Ale­xandre Magalhães. “Como que Iris coloca o Mutirama e o Zooló­gi­co nas mãos do Magalhães? O prefeito prometeu fazer a melhor administração da vida dele, mas escolheu o que há de pior — a escória.”

“Não faço média nem mesmo com eleitor”

Pelo PRP, Jorge Kajuru pretende ser candidato a senador: “Como posso ser útil na Câmara com Iris como prefeito e Andrey Azeredo como presidente?” | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção
O vereador Jorge Kajuru fala tam­bém de seu trabalho na Câ­ma­ra. Afirma que, mesmo com os ve­tos, faz seu trabalho e, a cada 36 ho­ras, apresenta um projeto de lei. “Sou o primeiro vereador a chegar to­dos os dias. Não faço média nem com eleitor. Alguns vão lá pe­dir dinheiro e eu falo que não fui eleito para dar dinheiro ou emprego”, declara.
Kajuru conta que até pede para as pessoas deixarem o currículo, mas costuma dizer: “Fui eleito pa­ra investigar, denunciar, criar projetos sérios. Não há nenhum projeto meu para dar título de cidadão a quem quer que seja. Não tenho o perfil assistencialista, demagógico, sou um parlamentar com cultura”.
O vereador, que tem a pretensão de ser eleito senador, diz que seu mandato tem a intenção de mos­trar que ele tem condições de ir para a capital federal. “Quero re­presentar Goiás em um nível superior, como em Brasília, para ser mais útil. Como posso ser útil na Câ­mara tendo Iris Rezende como pre­feito e Andrey Azeredo como presidente?”, pergunta de forma irônica.
Sua meta como vereador é am­bi­ciosa. Pretende deixar um legado por “ter feito mais em dois anos do que qualquer outro em quatro”. Ele, que montou um estúdio de TV no gabinete 44 da Câmara, con­ta que custa apenas a energia elétrica. “Pago o papel para o chamex, pago meu café, minha mesa, meu armário.”
Uma das bandeiras de sua cam­panha é um projeto antigo. Ele sem­pre quis criar o primeiro Cen­tro Diabético do Brasil. Para tanto, doa 100% de seu salário para a causa. “Doei para instituições pú­blicas e agora estou doando para o Cen­tro Diabético. Um prédio que de­ve ser alugado com apoio do go­ver­no de Goiás por meio do Hospital Geral de Goiâ­nia (HGG).” A unidade pode re­ceber o nome da mãe de Kajuru, Dona Maria José Nasser da Costa.
Conforme o parlamentar, entre no­vembro e dezembro foram realizadas 12 cirurgias bariátricas. “Agora vamos fazer mais 12 sem qualquer dinheiro da prefeitura. O único custo que temos é de quem não aceita fazer de graça, a enfermeira, o instrumentador e o anestesista, com R$ 6 mil”, conta orgulhoso.
O Ministério da Saúde disponibilizou R$ 6 milhões com a ajuda do senador Wilder Morais (PP) e influência do apresentador de televisão e amigo de Kajuru, José Luiz Datena. “Agora virá uma verba de custeio mensal, conquista do deputado federal Daniel Vilela (MDB).”
Dona Iris
Jorge Kajuru mordisca um pe­da­ço de queijo, se ajeita um pouco na cadeira de madeira, aproxima-se do repórter, lembra-se de algo e dis­para: “Desde o início do mandato, Iris entregou a prefeitura pa­ra sua mulher, Dona Iris. Sem ter qualquer relação com Iris Rezende, eu tenho preocupação com a saúde dele. Ele deve estar com depressão para ter de suportar o que a Dona Iris faz. Ela manda no governo. Ela começou a contratar quem ela quisesse, os cabos eleitorais dela”, acusa.
Para Kajuru, a primeira-dama quer se utilizar das facilidades da pre­feitura para voltar ao Con­gres­so. “Ela tem um desejo insaciável que é voltar para Brasília [foi deputada federal e, suplente de Maguito Vilela, assumiu por duas vezes co­mo senadora], o que ela sempre quis. Ela não teve nenhuma projeção em Brasília, foi sempre inútil.”
Conforme ele, no Congresso Nacional, a primeira-dama da capital foi motivo de chacota. “Pela for­ma de se comportar, de se vestir, com péssima oratória. É esta mu­lher que manda na Prefeitura de Goiânia. Por isso digo que Iris Re­zende, aquele gestor que amava Goiânia, não existe mais.”

“Iris veta tudo”, reclama vereador

Kajuru diz que, se depender de Iris, não conseguirá fazer muita coisa | Foto: Larissa Quixabeira / Jornal Opção
Jorge Kajuru reconhece que o po­der de um prefeito no sistema po­lítico é superior ao do Le­gis­la­ti­vo, mas não deixa de continuar trabalhando. “O prefeito veta tudo que a gente propõe. Se eu fosse esperar dele [Iris] alguma coisa para o Centro Diabético, por exem­plo, até hoje não teria feito nenhuma cirurgia. Tive de ir a Bra­sí­lia buscar recursos.”
Quando confrontado com a pergunta a respeito da atuação de um ve­reador para resolver o desastre da ges­tão Iris, Kajuru silencia um pou­co até reconhecer: “Vereador não tem força, não tem expressão ne­nhuma. Fiz projetos inéditos e fo­ram vetados. Vereador não é nada. Na cabeça de Iris, vereador é para dar título de cidadão, criar datas co­mo o Dia do Saci, Dia da Pamonha, mu­dar o Monumento das Três Ra­ças colocando no lugar a estátua da Do­na Iris. Um vereador [Kleybe Mo­rais – PSDC] propôs isso. Mes­mo a Dona Iris viva este vereador queria pôr estátua dela. Até perguntei se ela não havia morrido e eu não sabia”.
Mas Kajuru também reconhece valor em alguns de seus colegas, os quais considera preparados para o Legislativo municipal. “Tem gente capacitada, como o Lucas Kitão (PSL), a Dra. Cristina (PSDB), o Elias Vaz (PSB), a Sabrina Garcez (PMB), a Priscilla Tejota (PSD) e outros”, lembra.
O parlamentar critica o líder do pre­feito na Câmara, vereador Tião­zi­nho Porto (PROS). Espera que a as­sessora sirva sua taça, depois olha pa­ra a porta, aponta com o dedo in­dicador e define: “Tiãozinho não é líder nem de uma porta. Que força que ele tem? Que cultura ele tem? A vida pública do Iris está tão acabada que ele tem como líder o Tiãozinho”, cutuca.
Quando o repórter avisa que vai colocar a declaração na íntegra, Kajuru, irritado, responde: “É para colocar mesmo. Eu falei isso foi pa­ra ele. Ninguém queria ser líder do Iris. O Tiãozinho aceitou porque pensa menos do que uma me­sa”, diz, batendo com a mão direita. “Mas como pessoa ele é maravilhoso”, ameniza Kajuru.
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