Um dos mais ferrenhos críticos do prefeito Iris Rezende Machado (MDB), o vereador Jorge Kajuru (PRP) não tem qualquer expectativa de a gestão do emedebista melhorar, já que patinou nos primeiros 13 meses. Sem qualquer receio, Kajuru critica duramente o prefeito, a primeira-dama Iris de Araújo (MDB) e nomes escolhidos para compor o secretariado. Com ironia, Kajuru sugere que quem ainda administra Goiânia é o falecido petista Paulo Garcia e que a as decisões estão nas mãos da Dona Iris.
Ao receber o repórter, Kajuru parece tranquilo, bebericando uma taça de vinho, numa mesa da adega do Empório do Sertão, no bairro Alto da Glória, em uma noite da semana passada. Gravador ligado, o parlamentar tem o discurso pronto para criticar o caos que se instalou na administração da capital.
Começa dizendo que a Secretaria Municipal de Trânsito (SMT) não funciona desde a época do Paulo Garcia: “Só pode ser ele ainda o prefeito”. Na prefeitura, nas secretarias, diz o vereador, “só mudou a coleira”. “Lá do céu ou do inferno o Paulo está administrando. O Iris morreu. Ele fala que a secretária de Saúde [Fátima Mrué] só vai sair se ele morrer. É melhor ele tomar cuidado, tem muita gente torcendo para que ele morra”, ironiza.
Kajuru afirma que um dos problemas da gestão de Iris é a escolha errada do secretariado. Sem poupar nomes, fala em despreparo e “falta de caráter”. “O prefeito escolheu o pior secretariado de sua vida pública. Na gestão anterior dele, a escolha da equipe foi inquestionável. Do ponto de vista moral, ele tinha mais pessoas decentes e mais preparadas para esta nova gestão. Desta vez, Iris trouxe com ele o que há de pior”, assevera.
O vereador do PRP não altera, pelo menos no começo da entrevista, o tom de voz. Ele havia acabado de se reunir com um aliado político que pretende se candidatar a deputado federal e com quem percorre o Estado em busca de apoio para o pleito de 2018. Parece um pouco cansado, mesmo assim, não se deixar abater.
Afiado, o vereador mais votado da história de Goiânia (37,7 mil votos, em 2016) ironiza: “Esta gestão é a sequência dos erros e da incompetência de Paulo Garcia. Até as irregularidades não mudaram nada. É mentira de Iris quando ele fala que a secretária Fátima Mrué esteja acabando com as máfias na saúde, elas continuam lá”. E não poupa críticas. “Não mudou nada. Isso fica evidenciado na CPI [como ele denomina a CEI] da Saúde. Até quem ama o prefeito, como o Clécio Alves [vereador do MDB], reconhece que a saúde está horrível.”
Em uma entrevista para o jornalista Jackson Abrão (Grupo Jaime Câmara) em dezembro, lembra Kajuru, Iris disse que Goiânia seria referência em saúde pública no Brasil. “Venceu o prazo e Goiânia não é referência, é um caos. Lá na Câmara, para o vereador Clécio Alves, prometeu que em 90 dias Goiânia vai ser referência. Mas não vai ser. Definitivamente, Iris Rezende está gagá”, afirma.
O vereador lembra do dia em que apresentou denúncia com documentos anexados para a Polícia Federal e o delegado ficou surpreso. “Ele ficou estarrecido com as irregularidades. Todo mundo sabe que lá [na Secretaria de Saúde] continuam roubando, há uma máfia. Iris nomeou um diretor administrativo que é bandido, ele soube de irregularidades em contratos, mas não faz nada, não demitiu quem deveria. Ele não reconhece corrupção.”
Daí, Jorge Kajuru se estende para o passado do prefeito, dizendo que a vida toda Iris Rezende aceitou coisas erradas. “A fortuna que ele tem é proveniente do quê? Dos honorários dele de advogado de 1950?”, alfineta.
Ainda sobre a saúde, o vereador conta que médicos da rede municipal perderam o “encanto” com a profissão e o “respeito com a Secretaria de Saúde”. Ele ainda aponta os intermináveis problemas com o Instituto Municipal de Assistência Social (Imas). “Como que o Iris entrega o Imas a um homem como Sebastião Peixoto? O Imas já estava quebrado, inclusive por culpa do próprio Sebastião Peixoto.”
Segundo o vereador, o órgão deveria ser um hospital dos servidores e não poderia ser gerido pela Prefeitura de Goiânia. “Iris não apenas colocou gente ali para mudar, mas colocou alguém sem qualquer preparo, um desequilibrado. Ele [Sebastião Peixoto] é gente boa pra caramba para conversar, bater papo, mas não daria minha casa para ele tomar conta”, descarta.
Diante de graves problemas na saúde municipal, inclusive com a Comissão Especial de Inquérito (CEI) que investigou a Saúde e desgastou ainda mais a imagem da gestão com denúncias de superfaturamento e contratação sem processo licitatório, Iris ainda não reconheceu as irregularidades intrincadas com o seu governo. “Hoje ele não consegue enganar ninguém. Ele é falso, demagogo, perseguidor, traiçoeiro. Por isso consegue coisas que eu não suporto. Meu respeito pelo Iris é zero”, desabafa.
Acostumado a percorrer os postos de saúde, principalmente durante a madrugada, como um dos membros da CEI da Saúde, Kajuru flagrou a falta de médicos e a de produtos básicos para os cuidados dos pacientes. Ao vivo pelas redes sociais, classificou Iris de “mentiroso”, culpando-o pelas mortes. “Politicamente eu imaginava que o prefeito entraria na prefeitura e resolveria os problemas da cidade. Ele deixou a saúde abandonada, está um caos.”
Marginal Botafogo
O vereador entra em outra seara, lembrando os problemas da Marginal Botafogo, que têm causado transtornos repetidamente nas últimas semanas. “Será que Iris achou que não haveria mais chuva em Goiânia? E por isso não fez nada pela Marginal Botafogo? Choveu e alagou tudo. Todo mundo sabe que quando chove em Goiânia, alaga tudo”, alerta. E sugere que “Iris deveria ter tido um projeto pronto antes mesmo de assumir a prefeitura, tanto para a saúde quanto para estas questões de alagamento”.
Sem hesitação, Jorge Kajuru tem uma interpretação grave do que estaria levando os goianienses a amargar uma das gestões mais problemáticas da história: “O único projeto para Iris é fazer caixa para a Dona Iris. Ela vai ter uma fortuna para a campanha para deputada federal. A campanha dela terá estrutura de campanha de presidente da República”, acusa.
A respeito do Mutirama, o vereador critica veementemente o titular da Agência Municipal de Turismo, Eventos e Lazer (Agetul), Alexandre Magalhães. “Como que Iris coloca o Mutirama e o Zoológico nas mãos do Magalhães? O prefeito prometeu fazer a melhor administração da vida dele, mas escolheu o que há de pior — a escória.”
“Não faço média nem mesmo com eleitor”
Pelo PRP, Jorge Kajuru pretende ser candidato a senador: “Como posso ser útil na Câmara com Iris como prefeito e Andrey Azeredo como presidente?” | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção
O vereador Jorge Kajuru fala também de seu trabalho na Câmara. Afirma que, mesmo com os vetos, faz seu trabalho e, a cada 36 horas, apresenta um projeto de lei. “Sou o primeiro vereador a chegar todos os dias. Não faço média nem com eleitor. Alguns vão lá pedir dinheiro e eu falo que não fui eleito para dar dinheiro ou emprego”, declara.
Kajuru conta que até pede para as pessoas deixarem o currículo, mas costuma dizer: “Fui eleito para investigar, denunciar, criar projetos sérios. Não há nenhum projeto meu para dar título de cidadão a quem quer que seja. Não tenho o perfil assistencialista, demagógico, sou um parlamentar com cultura”.
O vereador, que tem a pretensão de ser eleito senador, diz que seu mandato tem a intenção de mostrar que ele tem condições de ir para a capital federal. “Quero representar Goiás em um nível superior, como em Brasília, para ser mais útil. Como posso ser útil na Câmara tendo Iris Rezende como prefeito e Andrey Azeredo como presidente?”, pergunta de forma irônica.
Sua meta como vereador é ambiciosa. Pretende deixar um legado por “ter feito mais em dois anos do que qualquer outro em quatro”. Ele, que montou um estúdio de TV no gabinete 44 da Câmara, conta que custa apenas a energia elétrica. “Pago o papel para o chamex, pago meu café, minha mesa, meu armário.”
Uma das bandeiras de sua campanha é um projeto antigo. Ele sempre quis criar o primeiro Centro Diabético do Brasil. Para tanto, doa 100% de seu salário para a causa. “Doei para instituições públicas e agora estou doando para o Centro Diabético. Um prédio que deve ser alugado com apoio do governo de Goiás por meio do Hospital Geral de Goiânia (HGG).” A unidade pode receber o nome da mãe de Kajuru, Dona Maria José Nasser da Costa.
Conforme o parlamentar, entre novembro e dezembro foram realizadas 12 cirurgias bariátricas. “Agora vamos fazer mais 12 sem qualquer dinheiro da prefeitura. O único custo que temos é de quem não aceita fazer de graça, a enfermeira, o instrumentador e o anestesista, com R$ 6 mil”, conta orgulhoso.
O Ministério da Saúde disponibilizou R$ 6 milhões com a ajuda do senador Wilder Morais (PP) e influência do apresentador de televisão e amigo de Kajuru, José Luiz Datena. “Agora virá uma verba de custeio mensal, conquista do deputado federal Daniel Vilela (MDB).”
Dona Iris
Jorge Kajuru mordisca um pedaço de queijo, se ajeita um pouco na cadeira de madeira, aproxima-se do repórter, lembra-se de algo e dispara: “Desde o início do mandato, Iris entregou a prefeitura para sua mulher, Dona Iris. Sem ter qualquer relação com Iris Rezende, eu tenho preocupação com a saúde dele. Ele deve estar com depressão para ter de suportar o que a Dona Iris faz. Ela manda no governo. Ela começou a contratar quem ela quisesse, os cabos eleitorais dela”, acusa.
Para Kajuru, a primeira-dama quer se utilizar das facilidades da prefeitura para voltar ao Congresso. “Ela tem um desejo insaciável que é voltar para Brasília [foi deputada federal e, suplente de Maguito Vilela, assumiu por duas vezes como senadora], o que ela sempre quis. Ela não teve nenhuma projeção em Brasília, foi sempre inútil.”
Conforme ele, no Congresso Nacional, a primeira-dama da capital foi motivo de chacota. “Pela forma de se comportar, de se vestir, com péssima oratória. É esta mulher que manda na Prefeitura de Goiânia. Por isso digo que Iris Rezende, aquele gestor que amava Goiânia, não existe mais.”
“Iris veta tudo”, reclama vereador
Kajuru diz que, se depender de Iris, não conseguirá fazer muita coisa | Foto: Larissa Quixabeira / Jornal Opção
Jorge Kajuru reconhece que o poder de um prefeito no sistema político é superior ao do Legislativo, mas não deixa de continuar trabalhando. “O prefeito veta tudo que a gente propõe. Se eu fosse esperar dele [Iris] alguma coisa para o Centro Diabético, por exemplo, até hoje não teria feito nenhuma cirurgia. Tive de ir a Brasília buscar recursos.”
Quando confrontado com a pergunta a respeito da atuação de um vereador para resolver o desastre da gestão Iris, Kajuru silencia um pouco até reconhecer: “Vereador não tem força, não tem expressão nenhuma. Fiz projetos inéditos e foram vetados. Vereador não é nada. Na cabeça de Iris, vereador é para dar título de cidadão, criar datas como o Dia do Saci, Dia da Pamonha, mudar o Monumento das Três Raças colocando no lugar a estátua da Dona Iris. Um vereador [Kleybe Morais – PSDC] propôs isso. Mesmo a Dona Iris viva este vereador queria pôr estátua dela. Até perguntei se ela não havia morrido e eu não sabia”.
Mas Kajuru também reconhece valor em alguns de seus colegas, os quais considera preparados para o Legislativo municipal. “Tem gente capacitada, como o Lucas Kitão (PSL), a Dra. Cristina (PSDB), o Elias Vaz (PSB), a Sabrina Garcez (PMB), a Priscilla Tejota (PSD) e outros”, lembra.
O parlamentar critica o líder do prefeito na Câmara, vereador Tiãozinho Porto (PROS). Espera que a assessora sirva sua taça, depois olha para a porta, aponta com o dedo indicador e define: “Tiãozinho não é líder nem de uma porta. Que força que ele tem? Que cultura ele tem? A vida pública do Iris está tão acabada que ele tem como líder o Tiãozinho”, cutuca.
Quando o repórter avisa que vai colocar a declaração na íntegra, Kajuru, irritado, responde: “É para colocar mesmo. Eu falei isso foi para ele. Ninguém queria ser líder do Iris. O Tiãozinho aceitou porque pensa menos do que uma mesa”, diz, batendo com a mão direita. “Mas como pessoa ele é maravilhoso”, ameniza Kajuru.